Eu estava pensando cá com meus botões o que seria de minha vida hoje se eu tivesse, lá no começo tomado outro rumo, palmilhado outro caminho, se tivesse escolhido outro lugar para morar, para trabalhar, se tivesse escolhido outra pessoa para viver! Se tivesse tido coragem e aquele meu amor secreto tivesse sido revelado! Se... se e mais se, mas... escolhi um se e cá estou eu meditando sobre ele.
Dentro da teoria do caos nós temos um termo usado para situações e condições que desencadeiam ações para as quais chamamos de efeito borboleta. Segundo esta teoria um simples bater de asas de uma borboleta em um determinado local num determinado momento pode causar um tufão em outro ponto mais tarde. A teoria do caos, neste caso numa interpretação alegórica afirma então que um simples movimento ou não, de qualquer coisa, por mais insignificante que fosse poderia influenciar o curso natural da natureza como um todo. Usando a teoria do caos eu diria assim que uma simples decisão tua agora pode te levar a ser um bem sucedido homem de negócios ou então te levar ao caminho do fracasso. Levar-te a ser um São Francisco ou ser um Hitler. Os amigos e família que tenho hoje não seriam os mesmos? Você é responsável por isto? De certa forma sim, de certa forma não, pois as conseqüências na escolha do caminho a tomar eu não as conheço, mas posso trabalhar algumas variáveis. Como o curso da vida é um sistema aberto sendo influenciado por milhares de variáveis, o resultado é mesmo caótico! Não existe previsibilidade, mas eu só poderia brincar com esta previsibilidade desde que eu pudesse dominar todas as variáveis e voltar o tempo. Voltando o tempo pudesse manipular ou congelar muitas variáveis lá no início de cada tomada de decisão ou simplesmente matar ou dominar a borboleta.
Estes pensamentos me roíam por dentro. Queria conversar com alguém a respeito disto.
A noite era fresca e o luar dava um toque de classe na imensidão estrelada. Eu caminhava absorto nestes pensamentos e nada me fazia voltar à realidade. Nem mesmo a cachorrada vadia que uivava reclamando carrinho ou conversando no seu conversar canino me despertou do devaneio.
De repente me vi sentado solitário num banco qualquer de uma praça deserta. A noite já era sonolenta e cansada enquanto a madrugada no sereno em respingo surgia célere para o despertar da natureza.
E eu perdido nos meus sonhos. Confuso, medroso continuava pensando que na vida tudo é um caos. São milhares de caminhos a nossa frente numa encruzilhada danada e aquele caminho que escolhemos será definitivo e determinará tudo o que virá pela frente. Somos nós, nas nossas decisões o bater das asas da borboleta. A cada caminho escolhido serão milhares de outros tantos cruzamentos que iremos enfrentar e milhares e milhares de ações que teremos que tomar em função daquilo que almejamos alcançar.
A vida é um palco de improvisações. É uma dança ensaiada que mesmo em se repetindo nunca será a mesma. Um passo que erramos, uma fala que falamos e que esteja fora do contesto fica fazendo parte da cena, será parte do espetáculo. A vida não é uma foto que eterniza uma ação. A ação é a dinâmica de um desejo realizado.
Por encanto os caminhos palmilhados desaparecem. Se olharmos para trás eles já não existem mais. Não se permite assim o retorno. É um bonde que passa e no seu passar escolhemos pegar ou não pegar. Este bonde jamais passará outra vez, e se passar nunca do mesmo jeito. Neste caos as variáveis se criam, se ampliam, se perdem e jamais se repetem.
Quedo, absorto nos pensamentos não percebi que alguém estava sentado a meu lado. Imediatamente sai de minhas conjecturas, e pensei:
- Agora é um momento de decisão, é o momento do bater de asas de uma porqueira de borboleta. Devo levantar simplesmente desconhecendo a presença do indivíduo que veio intrometido invadir meu espaço, meu sossego ou devo conversar com ele numa boa? Mas ele foi mais rápido, não pensou tanto e tomou a decisão antes do que eu começando o conversar:
- Acompanhei curioso teus pensamentos, e estou aqui para te ajudar iniciou ele todo tranqüilo para espanto meu.
- Mas como se atreve e como faz isto? Perguntei de chofre, Houve um momento de silêncio, e aí percebi que era o meu amigo de todas as horas, o criador de todas as coisas que tinha ouvindo meus pensamentos e se propôs a me ajudar.
E na sua voz divinal falou:
- O mundo é uma explosão de um todo que em partículas dança e encena a obra maravilhosa em que vivemos. Você é uma partícula como tudo e todos que estão a sua volta. O caos é o segredo para que tudo não fique se repetindo constantemente deixando sem graça a natureza e tudo que dela depende.
Insisti no porquê do caos e ele, colocando sua mão sobre meu ombro e olhando para meus olhos disse:
- É para que cada um que ao optar por um caminho possa neste caminho exercitar a virtude da aceitação; não da aceitação escrava, mas da aceitação liberta, aberta, que não confunde, mas que infunde beleza no ser e não na ânsia do ter. È próprio do ser humano imaginar-se sempre melhor no outro caminho, na outra situação.
- O que é melhor então para você neste momento? Perguntou ele e eu, me engasgando todo não conseguindo responder de imediato permiti que me ajudasse ouvindo atento o que ele me dizia:
- É a aceitação da vida que você tem agora. É o maravilhoso momento que você vive. Você é uma partícula e qualquer movimento seu de afeição, de raiva, de dor, de remorso ou alegria vai influenciar todas as outras partículas que estão por aí formando o conjunto deste viver maravilhoso. Você tem o poder consciente ou inconscientemente de criar, recriar qualquer coisa para seu bem estar e será o único responsável por isto. Você pertence a um sistema dinâmico não linear, onde as implicações das variáveis individualmente são aleatórias e não previsíveis.
Disse-me que iria dar mais uma voltinha pelas cercanias e completou antes de desaparecer:
- Lembre-se, o bonde passa muitas vezes, mas sempre de maneira diferente. O estado futuro é extremamente dependente de seu estado atual, e pode estar mudando radicalmente a partir de pequenas mudanças no presente. Você tem a liberdade de criar outras situações descendo deste ônibus e pegando outro ou o mesmo outra vez. É como se você se percebesse num caminho errado, não deve se arrepender por isto! Não deve se frustrar! Deve aproveite a oportunidade do erro para um acerto depois! Mas deve ter a coragem de pegar um atalho e chegar ao caminho pretendido. Será o mesmo caminho? Com certeza não, mas a decisão sempre será sua.
Enquanto ele, como uma leve névoa desaparecia mais adiante pensei:
- Estou feliz pelo caminho que percorri até aqui, pelos lindos filhos que tenho, pela esposa maravilhosa e pelos inúmeros amigos e até pelos meus desafetos.
Uma borboleta passou por mim indo beijar a lâmpada mais adiante.