segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A SUICIDA E O ANJO DEPENADO

O suicídio é uma forma brutal de resolver a passagem desta para outra vida. Segundo estudos o suicídio tem como causas mais comuns um transtorno mental, ou então uma forte depressão. A depressão pode ser oriunda de qualquer coisa, como por exemplo em ver seu time de futebol rebaixado para segunda divisão ou então, ser desprezado por um amor quase impossível. Contaram-me e eu li, no jornal sangrento, a história que vou escrever. A menina, foco desta crônica, vou batizá-la de Prustácia; Ela era de poucas rendas e vivia na periferia. O pai da Prus era alcoólatra e sua mãe prostituta. De pouco estudo, pouca prosa, e fora dos padrões de beleza do BBB, a Prus era balconista numa loja de tecidos. Sua família vivia dos parcos e míseros reis que ela recebia, da mísera pensão do pai, e dos proventos que sua mãe caolha conseguia nos encontros noturnos. Seu pai foi entregador de jornais, e num descuido e enfrentamento que fez com um ônibus, acabou levando a pior quebrando algumas costela, e perdendo uma perna. Se não bastasse tudo isto, a Prus se apaixonou perdidamente por um cara que trabalhava de gerente numa loja perto de onde ela media, dobrava e embalava, no balcão, os trapos para o povo comprar. Ela sabia tudo sobre o moço da frente de sua loja. Sabia que o nome dele era Pedro Paulo. Ele era rico, de corpo atlético e formado em economia. Para ela ele era o príncipe encantado que o tal deus Eros colocou ali perto dela. Nada importava mais nesta vida a não ser este tal Pedro. Ela era uma boa funcionária até então, e acabou por receber diversas broncas de seu chefe pelos constantes erros que ela começou a cometer desde que conheceu e começou a amar o dito cujo Pedro. Seus pensamentos se perdiam em sonhos, em desvarios alucinantes e quase proibitivos sempre que ela avistava furtivamente o tal Pedro. E o Pedro nem sabia, nem sonhava na existência dela, e nem estava aí prá ela. Em seu amor platônico a Prus alimentava uma louca esperança, e em seus devaneios se via nos braços dele em quentes afagos, em beijos apaixonados, e prolongados orgasmos. Um dia a coitada, talvez se contorcendo toda em caretas de prazer, foi despertada, frente a um cliente, e sumariamente despedida. Isto não seria o fim, e nem uma tragédia, ao que em seguida aconteceu. Estava amontoando suas poucas tralhas, para ir embora, quando alguém vem e comenta: - Que pena que está indo embora! E como se um meteoro tivesse atingido seu crânio, ela desesperada ouviu, na seqüência da colega fofoqueira. - Sabe! aquele bonitão ali da loja da frente? pois é, ele vai se casar! A Prus sabia tudo sobre o Pedro, seu nome, sua idade, sua formação, mas não sabia o mais importante, não sabia que ele era comprometido, que ele estava noivo; aquilo foi uma punhalada no centro do seu coração, naquele momento foi a morte mais cruel para ela. Sonhos desfeitos são quimeras que voam perdidas, e ela esta completamente desvairada. Saiu apressada da loja, carregando seus pertences, indo sentar num banco da praça mais próxima. O Pedro para ela agora era um canalha, um desalmado sem coração, sem vergonha e despudorado. Ela estava odiando-o mais que tudo nesta vida. Se o capeta habita esta terra, para ela tem um nome: Pedro. - Que miserável, se aproveitou de uma pobre coitada! pensava furibunda ela. De repente, sentada ali, começou a analisar sua vida. Acabou de perder um emprego por causa de um safado, salafrário que povoava livre seus sonhos. Um safado que se aproveitou dela em longos beijos e doces afagos. Um cara que simplesmente vai casar sabe lá com quem. O que faria agora, sem emprego e sem seu príncipe encantado? Não queria voltar para sua casa e nem aventou a hipótese de morar na rua. - O que farei? Veio-lhe um fugaz pensamento e ela imediatamente refutou-o dizendo: - Prostituta igual minha mãe? não! não mesmo! Isto jamais! Começou a chorar copiosamente, e suas lágrimas turbaram suas vistas e perturbaram seus pensamentos. Deixou-se perder em devaneios mais uma vez por ele. Estavam tontos de paixão, enlouquecidos de amor, entrelaçados num lugar ermo e bucólico. A brisa invejosa despenteava seus cabelos e derramava perfume trazidos das flores por onde passou, jogando folhas secas das árvores ao derredor, despertando-a do sonho. Enxugou as lágrimas com o dorso da mão, e passou a manga da blusa limpando seu nariz; Olhou ao derredor o vozeio e o tumulto da praça, e decidida pensou quase alto. - Nada me resta nesta vida! vou acabar com isto agora. Pensou, arquitetou alguma coisa na cachola, e saiu resoluta em direção ao viaduto. Olhou os caros que passavam rápidos por debaixo dela. Pensou nele, não mais como um salafrário, mas como alguém que ela não era digna e se lançou no espaço. Enquanto seu corpo flutuava em direção ao solo, se arrependeu, gritou por Deus. O anjo da guarda se apresentou e xingou: - Sua vaca desmiolada, veja o que você me apronta! vou ter que dar um jeito nisso agora, e voou para frente do caminhão puxando um ciclista para cima da Prus. O anjo da guarda tem poderes extra terrestres, mas nesta empreitada o anjo da Prus se fodeu. Pneus cantando derretendo no asfalto, penas para todos os lados, uma pancada oca e corpos no chão e gritos de dor e xingamento: - Sua filha de uma puta! você está louca! veja o que você fez! No hospital, a Prus e o ciclista, no mesmo quarto estavam sendo medicados. A um canto, transparente, o anjo todo remendado completamente depenado, observava a tarefa cumprida e, por ordem de Deus, começava uma nova tarefa. O papel de cupido. O ciclista, todo remendado, olhou para Prus toda machucada, se condoeu e num sorriso quase apaixonado, meio sem graça disse: - Eu estava na minha bicicleta, indo para uma direção e de repente, uma força estranha fez com que eu mudasse o rumo e fui de encontro a seu corpo que caia, jogando-o assim fora das rodas do caminhão. Ela olhou para ele condoída, quase apaixonada, ensaiou um sorriso amarelo e disse: - Muito obrigado, você foi o anjo que me salvou da morte! O anjo enciumado, mas feliz, juntou as penas e foi embora. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA