segunda-feira, 14 de maio de 2018

MINHA BICICLETA E O MALDITO PNEU

Qualquer moleque quando começa a ensaiar os primeiros passos pensa logo na bicicleta. É sintomático. A bicicleta é uma magia, é um adendo indispensável de seu corpo em crescimento. Sem ela o guri lamentavelmente não sobrevive e é por esta razão que como primeiro presente de aniversário os pais zelosos e preocupados introduzem na vida da criança primeiro o triciclo, mas na pressa de verem seus filhos equilibrados em duas rodas já no segundo aniversário introduzem a bicicleta com as indispensáveis rodinhas auxiliares. Normalmente é o pai que feito um bestão sai correndo ao lado da criança bicicletada. Ele incentiva e apóia seu filho que zigue zagueando vai se mantendo em cima do incrivel veículo de duas rodas presas a um quadro metálico, movido pela força motriz da mão paterna nas costas da criança que ainda se recusa a usar os pedais e assim vai arrastando seus pés pelo chão. Para o pai é o máximo, mas para o filho uma tremenda e radical aventura. Como não tinha passado de um triciclo usado ganho de um tio cresci sonhando ardentemente com esta máquina maravilhosa. - Um dia vou ter uma, convicto garantia para mim isto. Em vão passei minha infância e minha adolescência curtindo esta esperança. O tempo passava e eu ganhando peso, altura e idade e a magrela não vinha. Contentava-me em ver por entre as ripas da cerca alguns moleques que nas enormes bicicletas pretas se equilibravam por entre o quadro pedalando gostosamente. Um dia meu sonho explodiu em realidade. Lá estava ela, a holandesa toda linda, sorridente apoiada na parede esperando por mim. De pouco uso, mas impecável, um tesão mesmo. - Cuide bem dela por que ela será seu meio de locomoção para visitar as obras, admoestou o meu chefe. Naquele dia não via a hora que o expediente terminasse para poder me apoderar daquela maravilha. O porqueira do relógio a um canto da sala como se quisesse brincar comigo pareceu-me bater mais lento e girar ao contrário. O instinto protetor e a minha pouca intimidade em estar em cima da magrela holandesa fez com que eu a levasse empurrada até em casa. Aquela tarde não sai para minha costumeira pelada com meus amigos só para poder ter um tempo a mais e poder dar um trato esmerado na magrela. Subi em cima ensaiando algumas pedaladas; lavei, limpei e me assentei nos degraus da cozinha para ficar demoradamente namorando a bela holandesa. Ela pareceu toda faceira ao ser observada e me convidou: - Venha! Tenha coragem, venha me experimentar. Não resisti aquele apelo e lá estava eu montado na holandesa e aos trancos e barrancos, me apoiando, batendo aqui e acolá conseguindo dar minhas primeiras pedaladas. Nesta noite nem dormi de tanta felicidade e de dor nas canelas. De manhã lá estava ela toda faceira me esperando. Fui até ao trabalho um pouco em cima e outro tanto empurrando. Em poucos dias já estava bem familiarizado com a magrela. Só não dormia com ela na cama porque minha mãe não permitia. Eu a tratava com carrinho, com esmero como se fosse um ser humano. Ela era a configuração de um sonho realizado. Não permitia que ninguém a pegasse. Nossa convivência estava muito boa até que um dia, fatídico dia, aconteceu uma coisa terrível. Descia eu e a minha holandesa pela Rua Floriano Peixoto no maior papo. A rua não tinha calçamento e o areão dava certa instabilidade ao ciclista. Ia rápido, mas com muito cuidado para não derrapar. De repente, quando passava na altura do bosque de eucaliptos surge, medonho, maluco, vindo de encontro a mim um enorme pneu, e um moleque logo atrás, aos trancos e barrancos tentando pegá-lo. A cena era dantesca; O pneu crescia em tamanho e velocidade. Parecia um monstro com uma bocarra soltando labareda pelas fuças e gargalhando dizendo: - Vou te pegar. A colisão era certa. Deu tempo só de olhar, fazer às pressas o sinal da cruz e lá estava eu todo envolto, empoeirado, misturado com a bicicleta, pneu e o moleque. O filho de uma puta conseguiu se safar e escafedeu-se bosque adentro me deixando ao meio daquele amontoado de coisas. Uma alma boa passando conseguiu me livrar daquele amontoado. Levantei, olhei a rua deserta, limpei a terra do rosto, bati a roupa da areia e desesperado olhei a minha querida holandesa agonizante, toda retorcida, abraçada ao pneu. Em prantos cheguei a casa com a magrela às costas empurrando o maldito pneu. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

sábado, 12 de maio de 2018

PARA MEU ANJO, MINHA DOCE MAEZINHA

PARA MEU ANJO, MINHA DOCE MAEZINHA Quando minha vida, em tantos tormentos, navegava ao léu perdida além, Ou quando passava tristes momentos Lembrava então com saudade de alguém. Era uma saudade, qu’ eu inda mato, afogando-a em lágrimas, mas enfim, mirava você num velho retrato Como se a tivesse perto de mim. Cofre de tesouro qu’em vida eu tinha, foi o mais puro amor que existiu; Nele, quanta coisa linda continha, Toda bondade e doçura sem fim Num coração gigante que foi o de minha doce mãezinha pra mim

quarta-feira, 9 de maio de 2018

CORRENDO ATRÁS DO #VENTO: UM PADRE ENFURECIDO

CORRENDO ATRÁS DO #VENTO: UM PADRE ENFURECIDO: Ouvi um uivo satânico, de dor ou de raiva, não sei. Todo moleque que se prezava sonhava em ser coroinha; sonhava em vestir aquela túnic...

Mario dos Santos Lima

UM PADRE ENFURECIDO

Ouvi um uivo satânico, de dor ou de raiva, não sei. Todo moleque que se prezava sonhava em ser coroinha; sonhava em vestir aquela túnica de cor vermelha com sobrepeliz branca, só para conquistar as menininhas. Participar das funções litúrgicas era como um fetiche sagrado. Sem que o padre soubesse, surrupiar algumas hóstias e tomar um pouco do vinho escondido na sacristia, fazia parte do processo. Eu fui moleque e fui coroinha, um acólito extraordinário na função de turiferário. Nas missas, o que me encantava, era o cerimonial envolvendo o turíbulo, ou como muitos dizem, o incensário. Hoje eu entendo, que este místico objeto possui a forma de um coração para representar o homem, e seu progresso na vida espiritual, mas naquele tempo eu queria era tê-lo na mão e vê-lo fumegar. Eu era craque com a lida do incensário. Dava um trabalho filho de uma puta para iniciar o processo, principalmente quando o turíbulo estava apagado e frio. Eu preparava uma fogueira, fora da sacristia. para pegar os carvões em brasa, e colocá-los dentro do incensário. Tinha que assoprar para manter as brasas incandescentes. Lembro-me que as brasas, pulando de alegria gritavam para mim: - Assopra aí, moleque! assopra mais! Assopra gostoso que o seu soprar nos deixa doidonas! E eu continuava assoprando e me deliciando com isso. Na vida da gente tem muitos momentos - alguns bons e outros ruins. Os momentos de bobeira, que causam grandes confusões, são os piores. Certa feita, proporcionei um desses momentos, tipo jogar merda no ventilador. Frei Dionísio era extremamente metódico, intransigente e exigente. Não era nazista, mas fazia jeito. Nas cerimônias, não permitia que nada saísse errado. meticuloso em cada detalhe. Eu acho, que para ele, Deus dava mais crédito e um lugar seguro no céu a medida que a cerimônia fosse perfeita, sem qualquer erro. Ficava uma fera, fudido mesmo, quando a coisa não dava certo, e por isso perdendo alguns crédito junto ao Criador. Por conta disso os coroinhas viviam ensaiando cada uma das funções litúrgicas. Naquele dia eu estava de posse do turíbulo na função de turiferário. Preparei as brasas, carinhosamente, e fiquei balançando o turíbulo, de um lado ao outro, para acomodar o maldito braseiro, que por toda a lei queria se apagar. De quando em quando, assoprava na bundinnha delas, e elas todas ardentes suspiravam para mim: - Ai, ai guri, teu sopro nos deixa doidinhas! Prestando atenção nas merdas brasas acabei me desconcentrando da tarefa e deu confusão da grossa. Frei Dionísio deu o sinal para que eu me aproximasse afim dele colocar o incenso. Trouxe o turíbulo, ergui o suficiente para o frei colocar o incenso quando vi, apavorado, as sapecas brasas se apagando, vestidas de cinza, com as bundinhas de fora. - Malditas brasas; mil vezes malditas! gritei a todo pulmão. Meu grito ecoou estrondoso por toda a nave sagrada. O frei encapetado e o povo da igreja espantado, pasmado, olharam para mim. - O que é isso moleque? Quero respeito dentro da igreja! Frei Dionísio, avermelhado de cólera, deu a sonora bronca. E as malditas brasas, continuaram a me provocar. Mais e mais se vestiam de cinza, mostrando suas bundinhas gritando sem parar para mim: - Assopra, assopra, menino, que seu sopro nos faz tão bem! Envergonhado, tentando consertar as coisas, ergui o turíbulo até a altura de meu beiço e lasquei um baita soprão. Foi a metamorfose perfeita do céu em inferno. Ouvi um uivo satânico, de dor ou de raiva, não sei. De olhos estalados de pavor, o povo da igreja parou de debulhar o terço, e em debandada correria evadiu-se da missa. O frei Dionísio, feito um zumbi, com o rosto encoberto pela cinza, cego, espumando de raiva, ali mesmo proferiu minha excomunhão. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

terça-feira, 8 de maio de 2018

CORRENDO ATRÁS DO #VENTO: UM JEEP NADA CATÓLICO

CORRENDO ATRÁS DO #VENTO: UM JEEP NADA CATÓLICO: Todo #moleque que se preze sonha com uma #bicicleta. Quer estar em cima da magrela zanzando por aí. Eu já era diferente, nunca tive uma e...

Mario dos Santos Lima

domingo, 6 de maio de 2018

CORRENDO ATRÁS DO #VENTO: BOLA DE MEIA

CORRENDO ATRÁS DO #VENTO: BOLA DE MEIA: É goooooooool É gooool minha gente! E a menina, para alegria dos fanáticos torcedores, passou feito um foguete por entre os três paus i...

Mario dos Santos Lima

sábado, 5 de maio de 2018

CORRENDO ATRÁS DO #VENTO: UM JEEP NADA CATÓLICO

CORRENDO ATRÁS DO #VENTO: UM JEEP NADA CATÓLICO: Todo #moleque que se preze sonha com uma #bicicleta. Quer estar em cima da magrela zanzando por aí. Eu já era diferente, nunca tive uma e...

Mario dos Santos Lima