domingo, 26 de março de 2017

sexta-feira, 17 de março de 2017

AH! COMO ERAM LINDOS OS MEUS NATAIS!

Universal, abrangente, calorosa e cheia de amor assim é a festa de Natal, que inebria e povoa de fantasia a mente das crianças e adultos. É uma data esperada, cantada por todos, e é uma das mais coloridas celebrações da humanidade. É uma época em que toda a fantasia é permitida. Meus natais eram doces cheios de esperança e ansiedade. Dava a impressão que entre um e outro decorria um século, tal o tempo de espera. Eu sempre sabia que a data natalina estava próxima porque minha mãe sinalizava ao retirar de seus guardados o presépio, e o pai ao trazer, nem sei de onde, um pé de cedrinho que era bem grande; Eu acho que era do tamanho dele. Lá no canto da sala minha mãe ajeitava cuidadosamente, com pregos na parede o pé de cedrinho, e então, eu e minhas duas irmãs começávamos felizes o trabalho manual de preparar as correntinhas em papel celofane coloridas, os origamis de balões, fazendo cestinhas de papel onde minha mãe colocava os docinhos e bolachas que ela mesma fazia. Ela era muito hábil neste tipo de dobradura de papel. Ela delicadamente distribuía os algodões pela árvore, fazendo com que eles ficassem enroscados ou derretendo por entre as folhas como se fossem a neve. Eu nunca entendi o porquê destes algodões, mas também nunca perguntei. Achava fascinante e era o que bastava. As velinhas, finas em cera, em delicados castiçais eram dependuradas, uma a uma com cuidado, presas por presilhas. O presépio cuidadosamente disposto do lado do cedrinho dava o ar da devoção e da fé. Do outro lado um espaço reservado para os presentes. Eu acho que minha mãe conseguia deixar tudo arrumadinho e organizado uns dez dias antes do natal. Após o jantar, todas as noites que antecedia o tão esperado dia vinte e cinco, as velas eram acesas e meu pai, minha mãe e nós de joelhos rezávamos ao menino Jesus agradecendo pelo dia e pedindo saúde e muito amor para a família. Eu rezava, mas meu agradecimento era para este tal Jesus por ele permitir que no dia de seu aniversário a gente ganhasse presentes. Eu achava muito legal este tal menino deus e por isto acompanhava com entusiasmo meu pai e minha mãe nas orações. Meus joelhos às vezes doíam, mas eu agüentava firme até o final. Nas minhas orações eu prometia a este tal menino que iria me comportar, seria obediente a meus pais, e que não brigaria mais com minhas irmãs. Os dias passavam lentos parecendo séculos se arrastando. Lembro-me que quando chegava a tão esperada noite era de muita festa e de muita alegria lá em casa. O comportamento meu e de minhas irmãs neste dia era exemplar; Nenhuma briga, nenhuma desobediência. Eu acho que minha mãe gostaria que todos os dias fossem natais. O dia vinte e quatro de dezembro era mágico, fascinante, pois além de trazer o amor, a paz, trazia os tão esperados presentes. A gente nunca pedia, mas sabia que vinha. O presente sempre representou um momento ímpar que era trazido pela magia da primeira estrela surgindo na amplidão celeste. A oração da noite de natal me parecia não ter fim, mas ao seu término minha mãe sempre pedia para que eu e minhas irmãs fossemos para fora para esperar e anunciar a primeira estrela no céu. O céu era um grande palco e o breu da noite era uma cortina enorme que se abria para mostrar a sua principal estrela; A primeira que surgisse. Eu acho que às vezes o céu era trocista conosco ao demorar em abrir sua cortina. Naquela época, a escassa iluminação das ruas permitia um céu mais escuro revelando imediatamente a primeiro ponto luminoso ao aparecer de repente na amplidão. Às vezes me colocava deitado de costas para facilitar fiscalizar o surgimento da tão desejada e esperada primeira estrela no infinito céu. De repente, alguém de nós grita apontando com o dedo um ponto brilhante no céu: - É ela, é ela! E nós, em louca correria entrávamos estabanados na sala gritando para nossa mãe: - Ela apareceu! Ela apareceu! Minha mãe sorria, com aquele sorriso lindo para nós, meigamente nos abraçava e apontava para os presentes ao lado do presépio. Ah! Como meus natais eram lindos. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

sábado, 11 de março de 2017

A GALINHA XIMBICA

Criança sempre tem cada idéia que as vezes faz na gente arrepiar os pêlos mais íntimos que temos. Quer pular de um andar para outro imaginando ser o homem aranha ou então quer morrer para ver se de outro lado é mesmo da maneira como os adultos contam. Quando ninguém ajuda, coloca nomes às coisas e aos animais que só mesmo ela entende. É sempre lógica e deduz de forma brilhante qualquer pesquisa de interesse de foro íntimo dela. Desde que nasce, a criança já entende que o mundo dos adultos não é o mesmo que o dela. Ela entende que o mundo fará dela uma besta, tão besta como o são seus pais, seus avós, seus tios e outras pessoas que se acercam dela fazendo bilu bilu ou então dizendo como se ela fosse um bicho inútil de estimação: “- Que gracinha”. A criança sabe por experiência e por muita pesquisa que também ela se tornará uma besta um dia. Isto normalmente acontece quando os pêlos começam a brotar aqui e acolá nas partes inferior e anterior do osso ilíaco. O ser humana nasce, se torna criança e aos primeiros apêndices filamentosos da pele vira uma besta e quando estes filamentos começam a cair retorna ao estado de criança que nunca deveria deixar de ser. Neste estado de criança outra vez, ele ou morre abandonado ou se torna um ente extra terreste, anormal no meio dos bestas considerados normais. Na realidade não quero falar dos bestas que habitam esta terra e sim dos seres normais impúberes que buscam sabedoria derribando sonhos e arquitetando conceitos e ações. Fui criança. Hoje sou um besta, mas a beira da criancice. Eu e minha irmã, antes que as hastes queratinizadas viessem perturbar as axilas e partes íntimas nossas brincávamos tranqüilos pelo quintal de casa. O quintal era grande e a mãe aproveitava para criar umas penosas a fim de ter o precioso ovo e nos finais de semana uma deliciosa depenada assada. Adotamos, desde o romper da casca do ovo uma carijó e não sei por qual razão batizamo-a de ximbica. Hoje quis saber o significado da palavra ximbica. Escarafunchando o Aurélio nada pude encontrar e então fui esgaravatar a internet e só então, eriçado completamente hirto descobri o significado quase imundo da palavra. Só não encontrei como nome de uma nobre galinha. A ximbica era uma graça de galinha; desde pequenina teve um apego sincero por nós dois. Vinha buscar os artrópodes que a gente buscava pelo quintal só para ela. Ela gostava de se aninhar em nosso colo para receber os carinhos na sua empenada cabeça. Um dia a curiosidade nos abateu e a pergunta bailou feito uma doida em nossas cacholas: Por onde sai o ovo da galinha? - Mãe, por onde sai o ovo da galinha? Perguntamos para nossa mãe e ela de pronto respondeu: - Pór um buraquinho debaixo da asa. Lá fomos nós, pegar a ximbica e esperar pacientemente a hora do ovo sair. Ficamos montando um plantão cruel; um pouco eu e um pouco a minha irmã com a ximbica no colo aguardando por onde saia o tão esperado ovo. Finalmente, a pobre ximbica não aguentando mais reter o ovo em suas entranhas despejou-o para fora. O ovo caiu diretamente em meu colo e eu gritei para minha irmã: - Eu sei por onde saiu o ovo. - Toda espavorida, correndo ao meu encontro perguntou incontinente: - Por onde? Por onde? Respondi então: - Por um buraquinho que abriu e fechou aqui debaixo da asa. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

terça-feira, 7 de março de 2017

BUSCAPÉ SEM RABO NA IGREJA

Sempre me encantou, mas tinha um medo danado dos fogos de artifícios. Aquele céu colorido das mil lágrimas e das estrelinhas, o barulho do estampido e o rastro riscado no céu pelas mil fagulhas como cuspidas do rabo de um cometa deixava-me um tanto extasiado e medroso. Já até corri apavorado de busca-pé. Segundo Roberto Benjamin o busca-pé está classificado como fogos de tiro juntamente com o rojão, salva, foguete de vara e pistola. Precisa ter cuidado e habilidade para solta-los para não se tornarem perigosos O busca-pé consiste em um pequeno cilindro de papelão grosso carregado de pólvora fraca, dotado de um orifício de escape e uma vareta estabilizadora, ordinariamente feita de taquara. Uma vez aceso o seu pavio, o busca-pé, por efeito do peso da taquara, desloca-se velozmente e rente ao chão, sempre na mesma direção sugerindo buscar os pés dos circunstantes; daí o seu nome. Lembro-me que a molecada, não gostando da tecnologia do busca-pé sempre cortava uma parte do comprimento da taquara. Com a vareta cortada e o fogo no rabo o artifício saia feito um filho da puta sem direção certeira apavorando quem estivesse por perto. Era divertido, mas inconseqüente. O padre da paróquia, um ex prisioneiro de guerra não suportava qualquer estampido e ao ouvi-los se jogava incontinente ao chão; por conta disto tinha excomungado todos os fabricantes de bombinhas e também todo aquele que comprava ou soltava estes malditos artifícios. No início da noite a Igreja estava lotada principalmente das senhoras do Sagrado Coração, das mocinhas filhas de Maria e dos homens Congregados Marianos. O padre de costas para o altar, ao centro do corredor principal da nave, sentado confortavelmente em uma poltrona conduzia fervorosamente a oração do terço. Os moleques na frente da Igreja, provavelmente filhos daqueles que em oração se encontravam no interior da nave conversavam, riam e brincavam despreocupadamente. Para aqueles meninos o mundo dos pecados, da morte, do inferno e das excomunhões pertencia aos adultos. Era tudo balela. Quando tudo parecia paz, abençoada pelo vozeio que vinha do interior da Igreja pelas ave-marias repetidas de forma lamuriosa apareceu um moleque trazendo um picuá com dezenas de taquaras a vista. Deus atendia pacientemente aquelas preces e anotava os pedidos de graça de cada um e não estava com muito tempo para atender a molecada e com isto deu brecha para o capeta fazer a festa. - Eu descobri uma forma mágica de melhorar o busca-pé, dizia o chegante todo faceiro para a turba. A molecada fez um círculo para ouvir a palestra e participar de uma oficina de como construir um busca-pé potente. Explica daqui e explica dali e a conferência teórica foi finalizada com o início da demonstração prática. Retirou cuidadosamente do picuá dez artifícios que já estavam caseiramente preparados em pólvora forte para dar maior volume ao estampido e as colocou alinhadas no chão. As varetas de curta metragem não passariam pela inspeção do IMETRO. O capeta, agrupado com os seus possíveis futuros clientes do inferno estava atento e dando maior apoio a tudo isto. - Vocês devem ficar de costas enquanto eu coloco fogo no rabo dos busca-pés, ordenava o moleque. O capeta se materializando implorou para ele esta responsabilidade ao que foi atendido. Rindo a gargalhada solta, não precisou de fósforos, trouxe um pedaço do inferno e iniciou o tumulto. Os artifícios acesos pegaram rumos diversos provocando uma gritaria infernal na frente da Igreja. Os fieis pararam com as orações e por segundos dentro da nave ficou em suspenso um silêncio sepulcral. Deus antevendo a encrenca se mandou para o céu. Enquanto alguns busca-pés regidos pelo capeta se divertiam voando de um lado para outro entre as pernas da apavorada molecada três deles, conduzidos pelo chifrudo adentravam a nave vomitando uma labareda enorme pelo orifício traseiro. Depilavam as pernas peludas das velhas, lambiam despudoradamente as virilhas das moças e chamuscavam as pernas das calças dos homens. Os fieis em terror deixaram de lado as lamuriosas orações para com palavrões se juntarem aos estampidos dos busca-pés; Desesperados se apinhavam tentando sair pela porta central. Na falta de Deus o capeta fez da Igreja um inferno. O padre de bruços, com a batina chamuscada desfiava maldições e distribuía excomunhões. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA