segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

UM PEIDO NO ELEVADOR

No quinto andar entrou um bêbado. Quem nunca se viu em apuros em alguma ocasião? Ou esteve em situação angustiosa e constrangedora? Nunca? Então você é um saco de batatas amarrado pelo meio jogado a um canto! Um bundão mesmo! Eu já passei por diversos momentos inusitados e complicados. Um desses momentos foi proporcionado por um filho de uma puta de um peido. Ou melhor, por vários. Bem! O peido tem diversas categorias: O maroto silencioso; O mal criado e fanfarrão que sai fazendo um barulhão danado; O gentil que dá o aviso primeiro e depois arrebenta as pregas; O peido sem cheiro que sai do cú da mãe do chefe; O peido corneteiro que sai em alta pressão fazendo o fiofó sonorizar uma estranha melodia; Tem, entre muitos, o que não fede e nem cheira, e aquele que fede prá caralho. Não sou mestre em flatulências, mas sou mestre em soltá-los controladamente. Mas um dia desses o processo falhou. O som que ouvimos é produzido pela vibração da abertura anal. O som sempre vai depender da velocidade da expulsão do gás e de quanto estreita for a abertura dos músculos do fiofó. O cheiro depende muito da comida ingerida pelo peidão profissional. Certa feita fui a uma festa caipira, e lá ingeri quantidade de batata doce, cebola e repolho, acima da permitida pela lei estomacal. A festa acontecia no trigésimo quarto andar, no salão de festas do edifício. A certa altura da comemoração senti um grande desconforto na região mole, onde se acomoda meu umbigo, e forte pressão no final de meu tubo digestivo. Pedi licença e saí. O elevador chegou, a porta se abriu, eu entrei, e ela fechou. Meu fiofó entendeu que tinha entrado na privada e gritou um peido fedido como se dissesse: - Até que enfim estou livre! O peido saiu safado, meio molhado, alto que chegou a estremecer as paredes do elevador. O peido meio sonâmbulo, fedido feito carniça, saiu tonto claustrofóbico, tentando escapar do ambiente de qualquer forma. Ao olhar-me no espelho, que se encontrava em uma das paredes, um tanto envergonhado, e já meio sufocado pelo cheiro do metano, abri a porta no próximo andar para sair. Tentei, apenas. Duas lindas meninas entraram no trigésimo andar e apertaram o botão do térreo. Não sai para não ser réu confesso do pum, e usando meu dote artístico, coloquei a mão no nariz dizendo: - Um filho da puta peidou a abandonou miseravelmente o peido no elevador. O peido, dedo duro, que estava covardemente escondido atrás de mim se manifesta dizendo: - O cú que peidou foi o dele! Suando frio, tentando segurar a próxima flatulência, não consegui resistir, e um peido corneteiro escapou safado do meu fiofó. Elas me olharam enojadas, desceram no vigésimo oitavo andar dizendo: - Porcão! No vigésimo sétimo andar entraram duas senhorinhas de idade avançada. Tentei segurar, mas um peido em alto som veio cumprimentar barulhento as velhinhas. Em vão quis disfarçar, assobiando uma música qualquer. Elas me olharam, e uma para outra sarcasticamente comentou: - Esta molecada de hoje não respeita mais ninguém. Uma delas pegou o guarda-chuva e lascou na minha cabeça. Desceram rapidinho no vigésimo quinto andar. Então, puto da vida, com galo na cabeça e dor abdominal, liberei total. Soltei uma série de novos peidos. Todos mal cheirosos. Eles se reuniram no ambiente apertado, e numa dança maluca federam incrivelmente. O elevador estava feito uma bomba pronta para explodir, e eu completamente atordoado, drogado, sem saber o que fazer. No quinto andar entrou um bêbado. A coisa ficou preta e explosiva – gás metano mais etílico. O filho de uma puta não tinha perdido o senso de humor e gritou: - Abriram a tampa da fossa! E completou com um! iipuuu! Com dificuldade pegou um cigarro, acomodou na boca, e sacou a caixa de fósforo. Quando vi aquilo gritei desesperado: - Não faça isso, seu filho de uma puta! O elevador vai explodir! Tarde demais. Um clarão e bum. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

domingo, 8 de dezembro de 2013

O MÉDICO E A CARIDADE

- Doutor, vim pedir sua benevolência! Segundo o juramento de Hipócrates, o papel do médico é exercer a medicina com ética, compaixão e benevolência frente a seus pacientes. Pelos idos do ano cinqüenta, na pequena e pacata cidade de Venceslau, residia e exercia a medicina o doutor Mendes. Além de médico competente, e muito respeitado, era bem abonado financeiramente. Católico praticante. Meu pai, altruísta que era, vicentino, recebia durante a semana a relação dos necessitados, e disponibilizava o sábado e domingo para suas visitas a estas famílias carentes, para distribuir alimentos, conselhos e fazer encaminhamentos. Naquela época a nossa vida familiar era modesta, sem muitos recursos, mas tínhamos como riqueza o exemplo de generosidade e honestidade praticada pelo nosso bondoso pai. Ele não se intimidava com nada, enfrentava qualquer dificuldade, e quando o negócio era rogar um favor para os desvalidos, lá ia ele, de porta em porta, pedir ajuda para esta ou aquela família. Um dia, - isto foi ele que me contou - encontrou uma dessas miseráveis família, onde a mulher encontrava-se gravemente enferma, necessitando de auxilio médico urgente. Meu pai, na visita do sábado, ao constatar a gravidade do problema, e as condições miseráveis em que vivia esta pobre mãe e seus cinco filhos pequenos, não teve dúvida, partiu em busca de socorro. Bateu palmas no portão e um senhor, aparentando 50 anos, tranquilamente veio atender, perguntando: - Boa tarde! Alguma coisa que eu possa ajudar? Meu pai, de pronto respondeu. - Boa tarde! O doutor poderia me acompanhar para atender uma paciente que está passando muito mal? - Sim, posso sim! e completou - Chame, por favor, uma charrete! Enquanto ele entrou para pegar os apetrechos da profissão médica, meu pai providenciou a charrete. Deu ao charreteiro o endereço. O ploc, ploc do cavalo, pelas ruas da cidade, com seus peidos frouxos, dava ao ambiente interno da charrete um ar de melancólica ansiedade. Dr. Mendes olhou, perscrutou, pensou, olhou novamente, fez um ar de preocupação, puxou o receituário e prescreveu o medicamento. Entregou ao meu pai dizendo: - Mande aviar imediatamente esta receita, e qualquer coisa me deixe informado. Os dois retornaram, e já na frente da casa do doutor Mendes, meu pai pergunta: - Quanto foi a visita? Não sei exatamente o valor que naquela época ele cobrou de meu pai, mas só sei que ele cobrou 50% a mais, por ter sido uma visita na casa do paciente. Meu pai embaraçado, completamente desconsertado - não queria, e não esperava aquela resposta - pigarreou, olhou de um lado ao outro, tomou coragem e falou em tom suplicante: - Mas doutor! e a sua compaixão e benevolência para com os necessitados? O médico olhou demoradamente para meu pai e respondeu cruelmente: - Seu Chico, você veio solicitar meus préstimos como médico; Você não veio pedir uma caridade, portanto o que você me deve é este valor. Meu pai desconcertado, sacou de sua carteira os últimos cruzeiros que tinha; Pagou o médico e o charreteiro, e voltou mais pobre para casa. Meu pai acabou fazendo uma caridade além de sua posse, e aprendeu com isso a lição; Assim, toda vez que necessitava de um médico, para algum miserável, batia palmas no portão e quando Dr. Mendes aparecia ele perguntava: - Vim pedir sua benevolência, sua caridade! O doutor poderia me acompanhar para atender um pobre miserável? Ele olhava para meu pai, sorria satisfeito, pegava seus apetrechos médicos, e lá iam os dois, como grandes amigos, atender um ou outro mais necessitado. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

CORTE DE CABELO

Meti a máquina na cabeça dele e comecei a desastrada operação. No meu tempo de moleque pequeno, lembro-me perfeitamente que quase todos os filhos, seguiam, por uma razão ou por outra, a mesma profissão do pai. Se o pai era marceneiro o filho seria ótimo em fazer móveis; Se o pai era alfaiate o filho seria hábil na tesoura; e assim por diante. Hoje a coisa está bastante mudada, os filhos rebeldes, cada um segue a carreira que mais se identifica com eles. Mas tem muitos deles, que ainda seguem orgulhosos a profissão do pai. A tarefa, quando passada de pai para filho, traz a experiência vivida de muitas e muitas batalhas. É, com certeza, uma vantagem competitiva. Assim, com esta bagagem toda acumulada, o filho será o senhor absoluto da situação. Infelizmente eu não tive de meu pai a experiência de um barbeiro. Ele era do comércio, e por isto me dei mal na aventura de querer ser um barbeiro. Quando muito, hoje eu sou barbeiro, pelas ruas de minha cidade, na condução da tropa de cavalos e éguas que existe no motor de meu carro. Se bem, que me lembro ainda, que meus pais tinham uma máquina de cortar cabelo. Quando as cabeleiras, minha e de meu irmão, estavam além do limite, volta e meia, eles davam umas tosadas no topete com a maravilhosa máquina. Parecia incrivelmente fácil. Eu acho que meu sentimento intenso começou por ai, mas, infelizmente, sem nunca ter a oportunidade da prática. No seminário, com oitenta moleques para cortar o cabelo, sempre tinha alguém, que por experiência vivida, cortava o cabelo da gurizada. E minha paixão pela profissão aumentava mais e mais. O crek crek da máquina me hipnotizava. Aqueles cabelos caindo das cabeças, indo se acomodar no piso, era para mim um espetáculo jamais vivido por alguém. Embora tivesse vontade, no seminário nunca cortei o cabelo de ninguém , e nem me atrevi pedir para fazê-lo. Mas um dia de férias, em casa surgiu a oportunidade. - Silvestre, você precisa cortar o cabelo! escutei minha mãe implorando isto para meu irmão. Ele tinha medo da máquina de cortar cabelo da mesma forma que o gato escaldado com água quente tem medo de água fria. - Minha mãe, eu corto o cabelo dele! disse com convicção. - Mas você sabe fazer isto? perguntou incrédula ela. - Aprendi, e pratiquei muito no seminário! Disse minha tremenda mentira. Com muito custo e uma boa lábia, consegui fazer com que meu irmão sentasse no caixote em cima da cadeira. Peguei a máquina, fiz o sinal da cruz pedindo para que os anjos me ajudassem, mas eu acho que eles estavam de folga ou queriam me sacanear. A máquina na minha mão se debateu de um lado ao outro gritando: - Você não sabe fazer isto! Largue de mim seu padreco mentiroso! - Cale a boca, máquina imprestável! gritei furioso para ela. Meu irmão, arregalou os olhos, e medrosamente virou uma estátua. Com a mão trêmula e indeciso me perguntei. - Como é que eu começo este troço? Será que é de baixo para cima ou de cima para baixo? Suava frio. Meti a máquina na parte frontal da cabeça dele. e comecei a desastrada operação. Deixei a máquina no grau zero e aí comecei o escalpo. Já nos primeiros clek, clek a máquina de repente parou engastada de cabelos. Um grito de dor soou vizinhança afora. Minha mãe apavorada, saiu prá fora e quando viu aquilo caiu desmaiada. Meu irmão, com a máquina atolada no meio da cabeleira, com o sangue correndo pela testa, gritava feito um loco de dor. Eu, desesperado, não sabia se o levava ao hospital ou a uma barbearia. Botei o moleque nas costas e sai em busca de socorro. O barbeiro, numa operação delicada, livrou a cabeça de meu irmão da maldita máquina. Ele olhou demoradamente para mim decretando seu cruel veredicto, enquanto colocava mercúrio e esparadrapo no ferimento da cabeça de meu irmão: - Guri, nunca mais pegue numa máquina de cortar cabelo, ela é uma arma perigosa em sua mão! Morreu, então aí, o desejo meu de ser barbeiro. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA