MEUS CONTOS PERCORREM TODOS OS TEMPOS E MUITOS LUGARES. AQUI NÃO SOU ESCRAVO, SOU LIVRE, SOU #IRREVERENTE E "ESCRACHADO". MEUS CONTOS SÃO ORAÇÕES DO BOM VIVER.
domingo, 29 de março de 2015
URINOU NO QUARTO DA NOIVA
A mulher, em todos os sentidos, sempre foi mais recatada, mais discreta, mais delicada que o homem, principalmente quando tem vontade de fazer xixi; Ela vai fazer xixi com elegância, como quem vai passear; Vai disfarçadamente a lugar reservado, e sempre pede a companhia de uma amiga. O homem, pelo contrário, já é mais relaxadão, é um brutamonte, é mais porcalhão; Se estiver com a bexiga para estourar desocupa a urina em qualquer lugar; Atrás de uma árvore, atrás de um carro, atrás de uma moita sempre serão lugares encantadores, apaixonantes para espumar a urina no chão.
Vou contar o pecado, mas preservando a figura do pecador.
Eram dois amigos inseparáveis. Quase irmãos. Um deles gostava de usufruir em demasia do líquido que os passarinhos se recusam a tomar.
Um dia, para o casamento da filha do que sempre se mostrava sóbrio, o amigo bebum foi convidado, como não poderia ser de outra maneira.
Ele foi e bebeu pra cacete.
A festa se desenrolava solta e alegre na casa da noiva. Muitos convidados se cotovelavam pela sala, pelos quartos, cozinha e quintal.
A noite já pintava tudo de negro. A lua cheia, lá no alto, permitia com seu brilhar que as pessoas não se trombassem no quintal.
A casa era simples e de madeira.
No quarto, na cama de casal, se amontoavam dezenas de presentes.
O líquido estonteante, espumando nos copos, rolava solto. As mulheres faziam fila na única privada que existia na residência – era uma casinha em madeira lá no fundo do quintal. Os homens aliviavam-se por de trás da casa.
O amigo do pai da noiva sentiu-se na obrigação, no elevado dever de dar conforto a seu esqueleto, e para aliviar sua bexiga começou a dura procura pelo lugar adequado. A mangueira que ele tem no meio das pernas, usada para esvaziar a urina, estava exageradamente endurecida causando certo constrangimento no mulherio presente, que fugiam em gritinhos de temor ou de saudade.
Cambaleando, sem se preocupar com o vexame, procura o bêbado incessantemente um lugar adequado para se aliviar.
Por fim ele abre uma porta. O lusco fusco do ambiente que se descortinou, misturado com o álcool que ele ingeriu, deu uma visão de uma linda e convidativa privada para o quarto repleto de presentes.
Não teve dúvidas e começou com dificuldade abrir a braguilha.
A noiva se retocava a um canto na penumbra, e quando viu aquele jumento acomodando, para o lado de fora da braguilha, seu instrumento urinário, pensou que seria estuprada antes do noivo.
Quando ela percebeu que não era ela o objeto do desejo do bêbado, e sim o conforto que o atrás da porta trazia para ele, começou a gritar.
O bêbado ouvindo os gritos pensou que fosse seu cacete dando à bronca, e com voz entrecortada diz:
- Calma meu companheiro, já estou te aliviando!
A urina corria, caudaloso rio, por debaixo da porta invadindo o corredor e tomando conta dos aposentos. A noiva aos gritos, fugindo do quarto escorrega naquela imundície e cai de prancha. O pai dela vem em seu socorro enquanto o povo pisando nas pontas dos pés tapava as narinas para evitar o forte cheiro de ureia.
Quando o pai da noiva vê o bêbado saindo de trás da porta, pega-o pelo colarinho e espumando de raiva grita.
- Seu porco imundo, veja o que você fez!
O bêbado, quase caindo, babando, coloca a mão no ombro do amigo para não cair, e com voz conturbada diz:
- Bonita festa meu amigo, quero beber para comemorar!
POR: MARIO DOS SANTOS LIMA
sexta-feira, 27 de março de 2015
O VERDUGO E A GATA
O amor aos animais é um bichinho que nos contamina por dentro de maneira espantosa, incontida mesmo, e isso é hereditário. Minha mãe amava os animais como se fossem seus filhos, seus dependentes. Minha mana foi contaminada por esse vírus, e desta forma não pode ver qualquer peludo e empenado em sofrimento que imediatamente vai a seu socorro.
Certa feita uma gata...
Rondava a casa dela um felino em busca de migalhas que caia da gaiola ou sobras da ração da cachorra. Minha irmã se encantou por ele; Tentou pegá-lo, mas foi inútil; Não conseguindo captura-lo arquitetou um plano infalível. Foi aos poucos, dias após dias, pacientemente sevando o animal colocando alimento aqui e ali para que ele viesse busca-lo. A primeira ração foi colocada bem distante, e a cada dia trazia mais para perto, até que a última colocou dentro de uma armadilha. Um enorme barulho, miados angustiados, e assim lá estava o gato capturada.
Pense no capeta recebendo água benta!
Pelo temperamento hostil e barraqueiro minha mana descobriu que era uma gata.
A gata xingou, disse impropérios, ameaçou e cuspiu raiva, mostrando suas afiadas unhas para quem tentasse se aproximar do artifício no qual estava presa.
Minha mana, não tendo coragem de abrir a armadilha, chamou o corpo de bombeiro, que com luvas especiais em raspa de couro e com revolver em punho tirou a gata de dentro da armadilha dizendo para minha mana.
- Puta merda esta gata tem um gênio feroz, é bom que você leve ao veterinário para castrar e dar um sossega leão nela!
Com a licença do IBAMA o próprio batalhão se encarregou de fazer isso; Escoltado pela polícia militar, levaram a fera até ao veterinário.
A gata tentou escapar pulando do caminhão, mas foi contida em caganeira provocado pelo gás de efeito moral lançado pela polícia, e pelo forte jato d’água jogado pelo bombeiro.
O veterinário abriu a barriga do capturado animal arrancando os miúdos dela. Foi uma castração de sucesso.
A gata passou quatro dias sonolenta pelo efeito da anestesia. Aos poucos, voltando ao estado normal, aceitou a convivência com minha mana e recebeu na pia batismal o nome de Teca.
A Teca rosnava livremente pela casa; Esfregava sensualmente pelas pernas de quem estivesse por perto; Fazia montinhos de merda pelos cantos da casa para marcar o território; Arranhava desfiando cortinas e sofás na maior liberdade e aquiescência da dona da casa.
Mas um dia...
Desesperada minha mana procurou a Teca pela casa encontrando apenas as cortinas e sofás arranhados e os montinhos de sujeira. Sai pelas ruas, e numa caminhada continuada, sem se alimentar e dormir, em busca, por dias seguidos, da gata que tanto amava.
- Teca! Teca! Gritava loucamente pela cidade.
Colocou aviso na televisão, no jornal. Para continuar a busca pediu verba extra para a Petrobrás, pediu ajuda para a Dilma. As verbas que chegavam eram insignificantes para manter o projeto da busca; A prefeitura não participou porque queria criar o GATÃO para desviar verba, mas a minha irmã não aceitou.
O tempo passa e o desespero aumenta. Muitas lágrimas.
Um dia minha mana recebe um estranho pacote.
Dentro do pacote foram encontrados, uma unha felina, a foto do Prefeito encapuçado com uma navalha no pescoço da Teca e um bilhete em cd onde se ouvia.
- A sua gata vai ser decapitada e eu comerei um gostoso churrasquinho com a carne dela! Ah! Ah! Ah!
O prefeito tinha uma rixa política religiosa com minha irmã. Andava aprontando sempre botando fogo na casa de outra irmã, jogando pedra na cabeça de meu pai e outras tantas tramas cruéis.
O desespero tomou conta dela. Ela postou no facebook a terrível foto da degola. Teve, em poucos minutos mais de um milhão de acesso. Até o Papa Francisco curtiu a página lamentando.
Quando já tudo parecia consumado eis que um dia minha mana escuta uns toque toque na porta e vai correndo abri-la e grita de alegria:
- Teca, você voltou?
E a gata, toda machucada, manquitola, ensanguentada num olhar suplicante, com voz sumida, erguendo em súplicas as patas dianteiras, diz:
- Sim sou eu. Escapei milagrosamente ao arranhar o pinto murcho do filho de uma puta do prefeito, e estou de volta.
POR: MARIO DOS SANTOS LIMA
sábado, 7 de março de 2015
A JARDINEIRA E A MARIA-FUMAÇA
- Maldição, lá tá vindo o trem!
Reviver as boas, e às vezes, as não tão boas coisas que passei é um exercício salutar que pratico constantemente. Esse processo normalmente tem um start em alguma coisa que instantaneamente vejo ou escuto. Por exemplo, o apito do trem exerce esse fascínio em mim, e assim eu viajo no tempo nos trilhos da imaginação. Hoje vou navegar por sonhos mil num episódio que aconteceu; Estive nele; Na época, por ser ainda de fraldas, estava no colo de minha mãe, desta forma dele tenho pouca recordação. Para recordar melhor tentei fazer regressão e outras coisas que me sugeriram, mas não consegui ter uma boa resolução do fato. Perguntei então ao meu pai, e ele me contou em riqueza de detalhes, por isso tomo a liberdade de descrever tal qual ele me relatou.
Eu deveria ter quase dois anos e disputava ferrenhamente, com minha mana, o colo de minha mãe.
Naquele tempo maravilhoso, a locomoção de nosso esqueleto, de uma cidade a outra, era feita por uma moderníssima jardineira.
Cada jardineira, além do motorista tinha o cobrador que, entre muitas funções, era a de colocar e retirar malas, porcos, galinhas, sacos, caixão de defunto e outros apetrechos do bagageiro que ficava, do lado de fora, por cima do teto do veículo, e, para segurança dos passageiros, descer da jardineira para sinalizar que a passagem de nível estava livre.
Chovia a cântaro.
Eu, minha mana e meus pais estávamos realizando uma viagem radical por uma estrada lamacenta. Nas subidas os homens desciam para empurrar a jardineira e nas descidas, feito uma rampera no cio, ela rebolava de um lado ao outro na estrada.
O motorista meteu o pé no freio, mas a filha de uma puta da jabiraca não parou, e toda descontrolada foi deslizando, deslizando, até parar quase nos trilhos, além do limite considerado seguro.
Os passageiros se alvoroçaram feito pássaros em gaiola derrubada.
As nuvens cuspiam água sem parar.
O cobrador desceu com uma capa na cabeça para não ficar tão encharcado, e já, por cima dos trilhos, fazendo uma concha acústica com as mãos na orelha, ouviu o apito rouco da Maria fumaça que vinha engolindo trilhos e vomitando fagulhas por onde passava.
O cobrador desesperado não sabia se sinalizava para o maquinista ou gritava para o motorista.
A água da chuva veio se misturar a urina e as merdas que escorriam pelas suas pernas.
Por fim soltou a voz.
- Para trás! Para trás! Gritou aflito, completamente desvairado, o infeliz todo molhado para o motorista. Maldição, lá tá vindo o trem!
O motorista ,quando se deu conta da merda que iria acontecer, emporcalhou o banco.
Apavorado tentou, numa patinação terrível da jardineira, retirar a parte dianteira que avançava nos trilhos. Não estava conseguindo.
E a Maria Fumaça vinha fumegante, cansada, nervosa e arrotando um apito rouco, gritava:
- Saia da frente sua jardineira vagabunda, incompetente!
O motorista fez o sinal da cruz, clamando aos céus por ajuda, e pediu para que todos se segurassem.
O povo, em desmaio, gritava desesperado no bojo da jabiraca. Alguns tentando pular pela janela e outros, em lamúria, entregando a alma a Deus.
Num milagroso e último esforço o motorista agoniado conseguiu que a jardineira recuasse alguns centímetros; Isto foi o suficiente para que não se transformasse numa merda maior.
A Maria Fumaça chegou, e sem piedade, toda senhora de si, arrancou o para-choque da pobre jardineira, e a cada vagão que passava dava uma atritada dilacerando a lataria.
E a cada carinho do trem na jardineira o povo gritava em desespero.
Meu pai não contou o resto, mas imagino que os passageiros tiveram que sair rápido dali, a um lugar adequado, para trocar as cuecas e calcinhas, e lavar por dentro a jardineira toda emporcalhada para então seguir viagem.
POR: MARIO DOS SANTOS LIMA
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