quinta-feira, 19 de abril de 2018

DEFECARAM NO COTURNO DO SARGENTO

O primeiro dia de um homem nos tempos antigos era complicado, medonho e cheio de mistérios e que normalmente era com uma prostituta que toda despencando, desdentada, solícita, dengosa sempre dizia: - Enfim, sós. Você não sabia onde enfiar a cara e nem o falo. Mas o primeiro dia de um homem, no serviço militar era simplesmente muito mais terrível muito mais complicado que isto. Você nunca sabe aonde meter o corpo. Por mais que você capriche tudo dá errado e tem sempre um filho de uma puta de um sargento que aos berros, feito um monstro enlouquecido te recebe dizendo: - Bando de maricas, de imprestáveis, de vagabundos, de normalistas vou fazer de vocês homens, seus putos. Quando estava perfilado, ouvindo aquelas baboseiras todas pensei cá com meus botões: - Será que este imbecil vai colocar mais um grão no meu saco? E continuei absorto em meus questionamentos internos sorrindo pra dentro. - Será que o veado vai massagear meu pau e deixa-lo maior? Humilhou, xingou, chamou para a briga e por fim fez toda a tropa rastejar, rastejar até sangrar os cotovelos e joelhos. Com certeza, o lazarento ria por dentro por todo este sadismo sem precedente. Dia após dia era a mesma ladainha. Os dias iam passando e o contingente cada vez mais irritado, mais colérico querendo a todo custo a pele do sargento. O cabra da peste era sergipano de nascença, mas deve ter sido resultado de uma trepada da mãe dele com um nazista alemão. Quem sabe, com o Hitler. Se Jesus Cristo servisse o exercito sob o comando deste estúpido e insano animal por certo perderia a calma e partiria para a ignorância. - O exército é pra homem, gritava ele feito uma desvairada. - É pra macho mesmo e não para normalista ou marica, continuava ele com a fervorosa oração doutrinária. Praticamente quase toda a tropa tinha família descente aonde o pai com todo o seu rigor e disciplina era coerente e tinha por objetivo levar o filho ao bom caminho. Mostrava este caminho. Discutia sobre este caminho. Para ele, no entanto todos eram bastardos. O sádico sargento era fleumático; No alto de sua empáfia não permitia qualquer aproximação. Era sim senhor; Já vou e pronto. Se alguém ousasse enfrentá-lo, ficava imaginando que com certeza até a alma sairia em frangalhos. Ele era o dono do mundo, dono de cada um daqueles que compunham a tropa. Era ele que compunha e regia ao bel prazer as leis para aplicar no desenvolvimento da tropa. Era a marcha noturna. Treinamentos estratégicos. Corridas pela cidade. Lutas marciais. Para o treinamento de tiro, certo dia nas cercanias da cidade cada soldado levou seu lanche. Seria um dia todo ouvindo o estampido violento dos fuzis e os uivos esganiçados do sargento. Enquanto alguns exercitavam o tiro o resto da moçada, esperando pacientemente a sua vez se agrupava ruidosamente tal qual bando de lobos famintos por diversos pontos executando diversas patifarias para tentar se vingar do temível sargento. Quase duas horas da tarde e a seção de desperdício de munição teve fim. Famintos, tanto o sargento como a tropa foram reunidos para o lanche. Cada um se acomodou como pode para o início da devora quando de repente, vociferando feito um doido o sargento uiva: - Quem foi o filho de uma puta que comeu o meu lanche? Na sua mão trazia um pedra que tinha sido embrulhada no lugar do lanche. A tropa se perfilou e amedrontada tremia tanto que até os bois que estavam pelos pastos ali por perto caíram por terra. Como nenhum imbecil quis se acusar, o sargento furibundo passou por cada um pegando seus lanches, inclusive o meu e se pos na frente da tropa comendo feito um porco velho todos eles e a tropa faminta, cansada olhava aquela dantesca cena lambendo os beiços. Uma hora depois o bom e santo homem tinha comido uma parte e outra parte jogado fora. Tomou o que pode dos refrigerantes e o restante derramou na grama. A tropa cansada e com fome fervia por dentro. Apitou colocando a tropa perfilada dando um minuto para se aprontar. Vestir a farda, vestir a meia, calçar o coturno e colocar o quepe. O tempo para esta operação seria impraticável. Ouviu-se então um uivo assustador. Via-se o sargento enfurecido, transtornado tirando o pé do coturno emporcalhado de merda. A tropa toda passou três dias na solitária e porção do bolo fecal foi enviada para análise de DNA na tentativa de descobrir o autor da façanha. Já passou por diversos laboratórios nos Estados Unidos, Japão, Alemanha e a pergunta que não quer se calar é: - De que porta saiu este quibe?

terça-feira, 10 de abril de 2018

A MARCA NA FORQUILHA DO ESTILINGUE

O estilingue, na mão de um moleque de práticas perversas, é uma arma de grande poder de destruição da passarada e das vidraças, ou então, apenas um adereço no pescoço de um guri que quer apenas exibi-lo para se impor perante o grupo. Hoje o celular, em tudo, substituiu este artefato - é uma arma de auto-destruição. No meu tempo, um moleque traquinas era paramentado principalmente com um embornal carregado de bolotas de barro queimado e pedregulho, vestido apenas de calção rasgado, e no peito pelado a forquilha do estilingue pendurado no pescoço. Meu pai, preocupado com a educação dos filhos, naquele tempo sempre me dizia: - Meu filho, nós temos dois anjos,um mau e outro bom. Cabe a cada um ouvir e se responsabilizar pela escolha e pelo que se faz. Por conta disso, acabei materializando e posicionando, em cada ombro, os dois anjinhos. O bom, de um lado, todo de branco, de asas lindas e transparentes, um tanto chato e afeminado, vivia dando bons conselhos. No outro ombro, o considerado ruim, todo de vermelho, chifrudo, cornudo por certo, querendo ser amigo, vivia instigando maldades e afirmando que isto era muito divertido. Presenciei e tive que apartar muita contenda entre estas duas criaturinhas. Era de costume marcar no cabo da forquilha os passarinhos abatidos. A forquilha do meu estilingue permaneceu virgem por muito e muito tempo. As oportunidades para desvirginar o cabo não faltavam. O anjinho mau me cutucava sempre quando, lá num galho mais adiante, aparecia um voante: - Mate aquele com tua cetra! Você vai conseguir! O anjo bom gritava no outro ouvido: - Não faça isto com o coitadinho! Sempre o instinto mau vencia e lá estava eu, com a bolota de barro na malha mirando o empenado voante. Shelept, e la ia o projétil, cortando o ar, gananciosamente em busca do alvo. O anjo mau às gargalhadas, sentado no meu ombro, batia palmas observando a pedra, que voava em direção ao pássaro, enquanto isso, o anjo bom, tentava, por todos os meios, desviar a pelota da rota. E conseguia. Eu errava mais uma vez o alvo, e por incrível que pareça, me deixando feliz. Tinha moleque que o cabo da forquilha de seu estilingue era enorme só para conter os milhares de risquinhos, marcando a quantidade de pássaros abatidos. O do meu pobre estilingue era do tamanho normal, apenas ensebado. Se me perguntassem de quantas marcas o cabo de meu estilingue tinha, eu simplesmente respondia: - Este é novo! os outros estão em casa. Um dia a oportunidade surgiu. A tarde já ia dando mostras de cansada, e com isto, aos poucos, se vestia com seu manto escuro. Estava sentado, debaixo de uma enorme árvore, descansando da correria do dia antes de me recolher em casa. Um bando de andorinhas, em revoada aos milhares, procurava abrigo, e foi exatamente nesta árvore que desceram. Com o peso a árvore quase veio ao chão. Eu debaixo dela não acreditava no que via. Estava completamente municiado e tendo o apoio irrestrito do anjinho cornudo que aos pulos no meu ombro gritava: - Hoje você vai fazer muitos riscos no cabo de seu estilingue! O anjinho bom, apavorado, já estava lá em cima na árvore tentando espantar a passarada. A passarada, aos milhares, chilreava já quase dormitando. Carreguei minha arma e a estiquei apontando para o alto. Soltei a pelota. Nesse momento uma grande confusão lá em cima e a passarada iniciava o vôo em fuga, e eu pensei: - Maldito anjinho bom, espantou minhas vítimas! O anjinho cornudo ficou possesso e disse palavrões no meu ouvido. A pelota rasgou o espaço e atravessou a folhagem da árvore. Alguma coisa cruzou na frente da trajetória do projétil vindo despencar lá do alto aos meus pés. Era um gavião enorme, com um pássaro ainda pequeno entre suas garras, e meu anjinho preso no bico. Naquele momento entendi que a passarada entrou em revoada não por causa de meu anjinho e sim por causa da predadora. O gavião estava atordoado e a jovenzinha penada se debatia entre as garras da ave de rapina. Meu anjinho, meio tonto, meio depenado se recompunha aflito a um lado. Enquanto libertava a pequena criatura das garras afiadas da monstrenga, o anjinho mau gritava a todo pulmão: - Mate as duas! Mate! Mate que você poderá fazer dois risquinhos no cabo de sua cetra! Mate! Mate! Neste momento, toda apavorada pousa na minha mão uma passarinha que feliz, com lágrimas em seus olhinhos, choraminga para mim. - Muito obrigado, guri por salvar meu filho querido. Mãe e filho levantaram vôo, e junto com eles lá se foi o risquinho desejado. A pedrada não foi suficiente para quebrar nada no gavião, mas antes de levantar vôo, puto da vida me diz: - Moleque imprestável, você quase me matou, e para completar atrapalhou minha caçada, e agora não tenho comida para levar para meus filhotes. O anjo vermelho ria dando cambalhotas no meu ombro, dizendo: - Bem feito, ficou sem os risquinhos, seu babaca! Puto da vida, meti a mão com força no meu ombro matando de vez o anjinho pestilento. Cheiro de enxofre, e penas vermelhas por todos os lados, foi o que sobrou do maldito. O anjo bom, agora sem emprego, bateu asas e foi morar em outro ombro. Peguei a forquilha e feliz fiz a tão desejada marca pensando. - Na verdade não foi um pássaro que matei, mas o diabinho cornudo, e ele tinha asas , e é como se fosse um passarinho, e completei meu pensamento: - Ninguém vai precisar saber! E fui feliz para casa. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA