domingo, 26 de janeiro de 2014

NÃO DESONROU A FAMILIA

Gosto de escrever minhas crônicas, principalmente com cenas onde sou um dos atores, mas muitas vezes acabo escrevendo também sobre cenas engraçadas que me disseram. Esta história me foi contada por alguém um dia. A menina, desabrochando para a vida, em estonteante beleza, provocava olhares famintos nos machos abobados por onde ela passava. Seus seios se avolumavam, parecendo duas apetitosas ameixas, escondidas nas blusas extravagantes da menina rebelde. Suas pernas roliças, sempre a amostra, numa provocação medonha do seu saracoteado andar, mostravam a menina florindo para uma vida de muito amor e paixão. Seu jeito de ser refletia a inocência de uma criança. Sua mãe, sempre preocupada, orientava seu comportamento: - Cuidado minha filha, você não pode fazer isto ou aquilo; a vida é... blá, blá, blá, e blá. Vocês já viram tubo fazer eco? Pois o ouvido dos jovens é como um tubo, entra de um lado e sai de outro sem qualquer aderência. Mas um dia, a menina arrumou um pretendente, um safadão filho de uma puta que queria só se aproveitar dela. O desvergonhado queria só dar uns amassos e nada mais. - Posso mãe? Perguntou solícita a menina. Posso sair com ele? - Posso? Posso? Insistiu a garota. A mãe preocupada resolveu atender ao pedido, mas antes chamou sua filha para uma reservada conversa. Orientação sexual de última hora – tipo prevenção de acidente. - Minha filha, precisamos conversar seriamente. - Sim mãe! O que vamos conversar? Toda curiosa perguntou a filha a mãe. - Sobre a vida! - Mas mãe, eu não quero saber agora nada sobre a vida, eu quero sair com o menino. - Minha filha! Fez uma pausa com um longo suspiro a mãe, e na postura de preocupada, mas com as rédeas na mão, continuou. - Você é linda e atraente, e os homens, muitas vezes, são como abutres que querem somente devorar a carniça. - Mas eu não sou carniça! Interpelou a menina. - Nem os homens são abutres, apenas uma analogia. - Analo... o que? Não entendeu, mas pediu para a mãe continuar a história. - Minha filha, hoje você vai sair com um rapaz, nâo é mesmo? - Sim minha mãe. A mãe não sabia por onde começar a conversa; gaguejou, pigarreou, adquiriu coragem e desenrolou o assunto. - Você precisa saber! Parou um pouco. - Saber o que mãe? Fala logo! Estou curiosa. - Bem! Quando você conhece um rapaz, e começa a namorar com ele acontece muitas coisas. A filha curiosa não tirava os olhos da mãe. A mãe continuou na difícil missão de orientar a filha. - Ele começa pegando na sua mão, apoia-se no seu ombro como quem não quer nada, fala palavras lindas, decoradas, e a mão boba desce, pouco a pouco, indo acariciar os seus seios. - Credo mãe! - Sim filha, ele em seguida, feito um cachorro farejando a cadela no cio, babando feito um tarado, começa a passar a mão nas suas cochas. - E daí mãe, o que faço? - Até aí, você não vai fazer nada, isto é normal, mas se ele quiser ficar por cima de você, não deixe de forma alguma. - Mas por que mãe? Perguntou aflita a filha. - Porque ele vai desonrar a nossa família! Respondeu de pronto a mãe. A filha foi para o quarto para o apronto, e na sua cabeça martelava: “não devo deixa-lo por cima de mim para não desonrar a minha família” Repetia desesperadamente isto para não esquecer. Foi para o encontro e a mãe angustiada teve ainda tempo para a última orientação: - Não deixe que ele desonre a nossa família! - Sim mãe! E lá foi a menina, toda feliz, para seu primeiro encontro com um cafajeste do caralho. A noite foi longa para a mãe. Os minutos gargalhavam bêbados olhando para a mãe sonolenta e ansiosa. Eis que o trinco dá o sinal e a porta se abre. E eis que ela entra. A madrugada, lá fora, lambia a lua, enquanto a mãe desesperada pergunta à filha. - E aí, como foi o encontro? - Muito bem! Foi, tin tin por tin tin como a senhora havia me informado. Pôs a mão no meu ombro, passou a mão nas minhas tetas, lambeu minhas cochas, mas quando ele quis desonrar a nossa família eu desonrei a família dele. E a mãe, num grito agudo, caiu fulminada ao chão, gritando: O cafajeste filho de uma puta fodeu com a família! POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

domingo, 19 de janeiro de 2014

UM CADÁVER SEQUESTRADO

- Não acho conveniente levar sua mãe! Disse o marido a sua mulher. - Por que não? Pergunta irritada a mulher. Depois de muitas discussões acabaram concordando em levar com eles a idosa à praia. Ele no volante mal humorado, ela do lado caladona, e no banco de trás, toda prosa, a filha com a vó. A viagem, de oitocentos quilómetros, com muitas paradas para os xixis de praxe, e trocas de fraldas na vó, chegou, com muito custo, ao seu final. Até que enfim, depois de anos, as merecidas férias numa praia. - Chegamos! Viva! Foi um grito uníssono de dentro do caro. Final de dia, ainda sobrou um tempinho para um rápido banho de mar. E foi só. Diz o ditado: “azar mesmo é quando o urubu de baixo defeca no de cima”, e foi o que aconteceu. - Por que a vó não se meche? Perguntou a netinha. - Ela está dormindo, respondeu desesperada a mãe, tentando esconder o choro. - Eu falei para você mulher! Disse, pra lá de puteado, o pai. Em pranto a mulher pergunta: - O que vamos fazer agora? - Vamos embrulhar a velha e colocar no bagageiro, e zarpar de volta! Falou friamente o marido. - Isto é um absurdo! É um desrespeito! Toda nervosa gritou a mulher. E se fosse sua mãe? Perguntou ela ao marido. - Não temos dinheiro para o translado! Vociferou o marido. - Por que estão embrulhando a vó no tapete, mãe? - É para ela ficar mais quentinha. O calor estava infernal. Se não fossem tomadas as providências imediatas o corpo começaria a entrar em estado de putrefação. Com a mulher triste, aos prantos, no banco ao lado; com a sogra gelada enrolada no tapete e amarrada no bagageiro; o passeio, que teria a duração de um mês, foi estupidamente interrompido tendo início então um retorno fúnebre. - Por que a vó tá lá em cima? - Porque, porque... Durma aí menina e não faça tantas perguntas, respondeu o pai pra lá de irritado. O translado de cadáveres tem uma legislação apropriada. Necessita de autorização e nota fiscal da mercadoria. Nada disso estava sendo cumprido. A viagem estava tensa. O guarda dá sinal para parar. - Puta que os pariu, estamos fudidos! - O que vocês carregam aí em cima? Perguntou o guarda. - É a vozinha, respondeu a menina. Ainda bem que o guarda não escutou, mas deu uma geral em volta do carro para examinar. Suando frio, quando viu o pé da sogra aparecendo, rapidamente arrumou, encobrindo-o para o guarda não ver. - É melhor você cobrir com uma lona, pois a chuva está próxima, comentou o guarda. - Sim seu guarda, vamos fazer isto, mais adiante! O carro fúnebre retorna a pista e segue adiante. A fome já estava carcomendo as paredes do estômago e o xixi já umedecia a cueca e as calcinhas. Pararam numa taberna de beira de estrada. - A vó não quer fazer xixi também? - Não! Respondeu rispidamente o pai. Para não despertar muita a atenção, o carro ficou estacionado um pouco afastado do boteco, em uma sombra. Quando estavam entrando no boteco a pequena grita desesperada: - Pai, dois homens estão levando a vozinha! - Seus filhos de uma puta, voltem aqui, eu não paguei o carro ainda! - Minha mãe, eu quero minha mãe! E o carro perdeu-se no meio do poeirão na curva da estrada. O carro foi roubado, levando o pobre cadáver de uma vozinha. A confusão foi grande. A polícia foi acionada e a netinha chorando gritava. - eu quero minha vozinha! Até hoje o sumiço da velhinha é dado como sequestro, e nunca mais se ouviu falar nela. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

domingo, 12 de janeiro de 2014

MEU PAI É FODÃO!

- Meritíssimo, o criminoso não sou eu, é o cara ali! Todo cuidado é pouco, ao falar alguma coisa a seus filhos! A criança, até os sete anos acredita nas fantasias. Não existe muita diferença do que é verdadeiro e do que é ficção para elas. O papai Noel, o coelhinho da páscoa são ficções lindas que para as crianças, com o passar do tempo, vão perdendo a essência, na descoberta da realidade nua e crua. Para os pequenos, os pais são seus principais heróis. Nada é mais importante para eles. Ninguém é mais forte que o pai e nem mais linda que a mãe. Minha neta Vitória, com cinco anos, acabou colocando em xeque mate seus pais. Foi assim: Certo dia, meu filho chegou a casa, e foi acomodar as compras e as verduras na geladeira. Tinha comprado uma pedra de gelo, para deixar a loirinha no isopor mais saborosa. Resolveu triturar o gelo. Pensou numa maneira mais conveniente e fácil. Colocou a pedra num saco plástico, e começou jogando-a de encontro à parede. Barulho daqui, pancada dali, a Vitória chega curiosa e assustada perguntando: - Pai, o que você está fazendo? - Estou quebrando o gelo. - E o pai tá conseguindo? - Estou sim, minha filha, e completa: - Não está vendo que o pai é fodão? Alguns dias depois, a Vitória não volta para casa, e em seu lugar veio a polícia infante juvenil acompanhada da assistência social portando uma ordem de prisão. Meu filho foi algemado e a Flávia desesperada, acompanha gritando por socorro. - Cadê minha filha? Por que estão prendendo meu marido? As lamúrias dela perderam-se inúteis, em tom de chacota, pelos ouvidos mocos dos miseráveis policiais. Meu filho foi posto, frente a frente, a um vetusto e severo juiz. Na sua longa toga, parecendo um urubu faminto, o idoso magistrado, ajeitando os óculos para melhor enxergar pergunta ao policial: - Por que você bateu na sua mulher? O policial chega mais perto da mesa e cochicha ao juiz: - Meritíssimo, o criminoso não sou eu, é este daqui. O Juiz, desconsertado, pigarreia e formula a mesma pergunta ao meu filho. Meu filho nervoso grita ao juiz: - Vossa excelência está maluca! Eu nunca bati em ninguém! E continuou: - Quero uma explicação por esta prisão, e quero também saber onde está minha filha. - Sua filha está recolhida numa clínica psicológica, e você vai perder o pátrio poder. A Flávia, aos gritos suplicava: - Quero minha filha! Quero uma explicação. A sala se manifestou ruidosamente exigindo: - Explica! Explica! - Silêncio no recinto! Interpelou o juiz. - Então vou explicar, rendeu-se o homem da lei. Solenemente o magistrado inicia a história: - Recebi uma denúncia gravíssima da escola que frequenta sua filha. A diretora relatou-me que, além de quebrar tudo em casa, você disse para sua filha que é fodão mesmo. O juiz olhou sarcástico para meu filho e perguntou: - Tem alguma coisa em sua defesa? O meu filho e Flávia se entreolharam e aliviados caíram na gargalhada. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

sábado, 4 de janeiro de 2014

MOLEQUE PIRRACENTO

Chorando, então voltei, e fui enxugar as lágrimas na saia de minha mãe. Você já foi birrento, pirracento? Não tem na memória, ou está mentindo? Pergunte então para seus pais. Eu acho, apenas acho que não fui nada birrento, mas, por ironia da vida, infelizmente tem uma cena registrada em minha cachola, que diz o contrário. Por mais que queira apagar, ou negar, tem meu pai para dela me lembrar. Diz a lenda que o fedelho, a partir dos dois ou três anos até uns aos cinco, começa a se manifestar ruidosamente principalmente em público. Dizem os psicólogos e pedagogos que os pequenos projetos de gente começam a radicalizar suas vontades, a apavorar seus pais, ao descobrirem, por encanto, que é através dessas manhas, dessas birras que eles conseguem se fazer ouvir rapidinho. As birras muitas das vezes vêm para extravasar um descontentamento ou então um aviso: - “Ei, eu estou aqui e quero ser atendido!” Se os pais ou responsáveis pelo menor não o atender vai, com certeza, pagar o mico. Na minha época umas boas chineladas na bunda e puxões de orelhas resolvia rapidinho o beco sem saída, mas hoje isso é considerado violência, e o aplicador dos tapas pode apodrecer na prisão. Recebi injustamente muitas chineladas, isso muito bem me faz lembrar. A cidade em que a gente residia era de chão vermelho. Era tão vermelho que o pessoal usava a terra para tingir roupas e pintar as casas. Era um torrão grudento, incrivelmente pegajoso, tão aderente que a polícia usava para engessar os bandidos. Era o terror para as mães, principalmente quando chovia. Quando levava umas chineladas de minha mãe, lá ia eu me vingar dela me espojando, quase chafurdando, naquela imundície. Rapidinho ela tinha que me lavar para não virar moleque de pedra. Eu adorava fazer isto para ver minha mãe esbravejando. Era como uma pequena vingança para abrandar o ardume das chineladas. Um dia, numa viagem de vapor, de Porto Amazonas a São Mateus, aprontei alguns inconvenientes, e recebi como paga umas boas chineladas. Eu achava que era preterido pelos meus pais por causa de minha irmã mais nova. Coisa de moleque ciumento. Diga-se de passagem, uma viagem de vapor para uma criança, de três ou quatro anos, julgada excluída pelos seus pais, não poderá ser comparada com um passeio pela Disney. Quando o vapor estava atracando em São Mateus, ainda sentia minha bunda ardente pelas chineladas recebida. Arquitetei um monstruoso plano que iria colocar minha mãe e meu pai numa verdadeira sinuca. Talvez essa atitude fosse a maneira deles me notarem, foi isto que pensei. Seria uma pequena grande vingança. O vapor atracou. O tempo estava chuvoso. Saí prancha abaixo em direção ao lamaçal, ouvindo minha mãe desesperada gritar: - Mario, cuidado! Volte aqui menino! Sem dar ouvidos a ela, só não chafurdei para não sujar a roupa que adorava vestir, mas meti as mãos naquele barro com fé e coragem. Ao invés de bravos, ouvi meu pai e minha mãe gargalhando. De imediato, olhei para minhas mãos e não acreditei no que via. Fiquei decepcionado. Minhas mãos estavam limpas, limpíssimas, apenas cheias de areia, e nada mais. - Que bosta de terra é essa que não suja? Questionei-me perplexo e desconcertado. Chorando, então voltei, e fui enxugar as lágrimas na saia de minha mãe, que ainda ria passando amorosamente a mão na minha cabeça. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA