quinta-feira, 24 de maio de 2012

UM LADRÃO MUITO FEDIDO Quando nos deixamos levar pelo pavor, muitas vezes as conseqüências disso podem dar em merda. Pela afinidade o medo, o pavor e a ansiedade são irmãs que saíram do mesmo saco escrotal. O medo nos põe em estado de prontidão pelo receio de que alguma coisa física possa nos atacar. A reação do medo é o pavor que às vezes é trágica e fedida. Quem olha o medroso, no momento da ansiedade, da cintura para baixo, poderá notar quase sempre, líquido ou sólido escorrendo por entre as pernas. Como o medo é uma reação obtida através do contato com algum estímulo físico, sempre gera uma reação pandemônica. O pânico se instala. Meu amigo, de alta patente da aeronáutica, é um desses cagões que passam a vida em pânico. Vive com medo até da própria sombra. Sua casa é uma verdadeira guarnição. Ele, a mulher e os três filhos cada um tem o porte de pelo menos cinco tipos de armas. Na frente de sua casa está estacionado um tanque de guerra e uma guarita fortemente armados. Lá com seus defeitos, mas é um protetor ferrenho dos animais e faz questão de propagar isto, tem seus animais muito bem protegidos. O cachorro mora numa casinha de paredes a prova de balas. O coitado do guaipeca tem uma armadura e um capacete que o coíbe de se locomover com certa velocidade. O gato, coitado, não tem condições de dar as trepadinhas na gata da vizinha porque a vestidura de proteção que ele usa é de espessura que ultrapassa o tamanho do membro reprodutor do bichano. Até o papagaio usa farda da aeronáutica e colete a prova de bala. A casa está pronta para qualquer contenda. As armas na residência de meu amigo estão posicionadas estrategicamente em todos os pontos. As janelas e portas alem das grades de proteção, em aço especial, são trancadas a sete chaves. Todas as noites, antes de dormir, meu amigo dá a ordem unidade e todos juntos, mulher, filhos e animais fazem a oração da noite pedindo ao poderoso dos altos céus muita proteção. É um medroso convicto! Certa vez, ao entardecer, enquanto o lusco fusco das lâmpadas dos postes brigava com o manto escuro que a noite trazia, alguma coisa estranha acontecia no telhado de sua casa. Todos juraram que eram passos bandidos de um filho de uma puta qualquer tentando apropriar-se sabe lá deus do que. O pulguento ganiu assustado, o gato deu uma miada esganiçada e o papagaio tremeu e caiu do poleiro. Era o fim do mundo! Estava decretada a batalha. Alguns tiros foram dados em direção ao teto da casa que era em madeira e a besta sem qualquer questiúncula fugiu apavorada. Algumas goteiras se fizeram presente anunciando que alguém deve ter atingida a inocente caixa d’água. O encanador não levou mais que trinta minutos para corrigir o acidente, e disse: - Se vocês forem praticar tiro, não o façam nesta área. Demarcou com giz, no teto onde ficava a caixa d’água. No dia seguinte a tarde quente novamente chegou permitindo que o destemido e audaz larápio voltasse para conseguir o que fora interrompido na noite anterior. E o barulho de passos se fez ouvir no teto. Pareciam que olhos perscrutavam nos orifícios deixados pelos projéteis. O pavor tomou conta da casa. Respeitando a zona proibida pelo encanador, novamente uma saraivada de balas sibilou por entre o vazio do forro e o telhado quebrando muitas telhas. Após todo este forféu o silêncio sepulcral meteu medo nos moradores da casa sinistrada. Montou-se rodízio de guarda a noite toda. Meu amigo, por certo deve guardar alguma coisa muito preciosa despertando a ganância do gatuno. Pela terceira noite seguida ele veio marcar ponto no peneirado teto da casa dele. Pareciam muitos lá em cima que olhavam pelos furos, com olhos em brasa e riam do pavor da família reunida. Antes de tomar uma providência um pouco mais violenta, chamou o quartel, o corpo de bombeiros e a polícia montada. - Eu chamei a polícia seu filho de uma puta! Meu amigo gritou a todo pulmão olhando para o teto, tentando amedrontar o safado. O bandido desconheceu a ameaça e continuou fazendo sabe lá deus o que, e isto tornou meu amigo mais possesso ainda, e feito um capeta sapecado foi lá fora, posicionando o canhão do tanque para o lado do telhado, gritando mais uma vez: - Seu filho de uma puta, saia daí ou mando você para os quinto dos infernos. Fez-se silêncio lá fora, mas no teto da casa o bandido parecendo surdo continuava no seu incansável laborar, e isto fez meu amigo tomar a decisão final. - Você quer guerra, então vamos a ela! Muitos tiros de canhão reboaram pela amplidão escura. A polícia chegou assustada juntamente com um destacamento do exército e o corpo de bombeiro, e nada pode fazer. A parte do telhado e caixa d’água estavam completamente destruídos. Foi encostada a escada e o bombeiro subiu para apanhar o que restou do corpo do miserável gatuno. Por entre os entulhos do telhado com a lanterna na mão o bombeiro finalmente encontrou o animal, juntamente com sua fêmea, ferido na perna. Tapou o nariz, pegou os dois e apresentou ao meu amigo um fedido e inocente casal de gambás. por: Mario dos Santos Lima