terça-feira, 30 de janeiro de 2018

DEFUNTO ATROPELADO

Aquele dia o Padre convidou-me para ajudar a missa na comunidade perto da Ilha Bandeirantes no Rio Paraná. O patrimônio era singelo e de indescritível beleza. Arrumei-me todo e fui com ele para o lugarejo. Fomos de Jeep. A estrada de terra arenosa em alguns lugares oferecia algum perigo fazendo o Jeep perder o equilíbrio dando algumas derrapadas. A velocidade máxima conseguida era de 40 quilômetros por hora. Levamos aproximadamente 3 horas. Hoje não sei, mas naquele tempo a estrada era ladeada por densa floresta. Às vezes o medo nos assolava pelo rugido repentino da onça outras vezes o encantamento pelo cantar da passarada. Tudo era tão mágico tão inebriante. Antes de chegar à localidade passamos por uma casa tosca a beira da estrada onde morava uma pobre e linda menina, de seus quinze anos. Dizia a lenda que era possuída por um espírito maligno. O Pe chegou e a menina incontinenti se escondeu no quarto gritando impropérios. O Pe em vão tentou conversar com ela. Inconformado com a situação, dizendo para os pais dela que ele não tinha o poder de tirar aquele espírito maligno fomos embora deixando para trás uma menina angustiada sabe lá por que raio de coisa. Chegamos e o povo em festa nos esperava. A Igreja toda enfeitada. Muita gente circulando pelas barracas armadas para a festa do padroeiro. Apenas um acontecimento estava entristecendo o ambiente, uma pessoa importante tinha falecido na comunidade. O velório estava acontecendo na própria casa do defunto. O padre me pediu para que fosse ate a casa do dito defunto para marcar presença enquanto ele se preparava para a missa. Nunca gostei de freqüentar estes ambientes macabros, não por medo da morte, mas, muito mais pelo fato do lazarento defunto, de repente ressuscitar e por em polvorosa todo o recinto. Fiquei ali com o cú na mão. A funesta hora não passava. Era gente que cantava uma maldita melodia sacra desafinadamente. Era gente que rezava o terço se arrastando melancolicamente pelas Ave-marias e o defunto ali quietinho, humildemente agüentando tudo. O defunto estava na parte principal e central da sala tranquilamente acomodado dentro do seu caixão que perigosamente se equilibrado sobre dois cavaletes. O esquife estava com seus pés voltados para a porta de entrada. A sua volta estavam sentadas, em toscas cadeiras e bancos de madeira as rezadeiras e as carpideiras contratadas para chorar. E como choravam estas malditas velhas! Eu estava num canto da sala, perto da saída observando atentamente toda esta cena. Do lado da porta, encostado, atrapalhando a passagem dos curiosos que por ali obrigatoriamente tinham que transitar encontrava-se um homem, vestido de vaqueiro que soluçava constantemente, provavelmente por excesso de álcool e que, em pé ali desrespeitosamente aproveitava para tirar uma cochiladinha. Entra gente, sai gente pulando por cima das pernas do maldito dorminhoco e de repente alguém, distraído olhando mais para o defunto, figura principal deste cenário tropica nos pés do bêbado filho de uma puta. e vai cair nos braços aflitos das rezadeiras. Tumulto geral e muitos ui ui ui das rezadeiras. Nem mesmo isto fez o bêbado dorminhoco acordar, que feito um palanque foi escorregando, escorregando batendo nos pés do cavalete. O impacto dos pés do bêbado no cavalete foi o suficiente para que o defunto fosse perturbado e lançado de dentro do caixão violentamente ao chão. Só vi, apavorado o caixão todo arrebentado, flores por todos os lados e o miserável cadáver todo enrijecido de mãos postas no peito sorrindo para mim. Na confusão todos se lançaram porta à fora aos gritos de socorro. Eu, é claro estava no meio da galera sendo esmagado na porta estreita de saída. Lá dentro ficaram abandonados estendidos no chão o bêbado, agora confortavelmente deitado dormindo e ao seu lado o infeliz defunto atropelado com enorme hematoma na testa. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

URINOU NO QUARTO DA NOIVA

A mulher, em todos os sentidos, sempre foi mais recatada, mais discreta, mais delicada que o homem, principalmente quando tem vontade de fazer xixi; Ela vai fazer xixi com elegância, como quem vai passear; Vai disfarçadamente a lugar reservado, e sempre pede a companhia de uma amiga. O homem, pelo contrário, já é mais relaxadão, é um brutamonte, é mais porcalhão; Se estiver com a bexiga para estourar desocupa a urina em qualquer lugar; Atrás de uma árvore, atrás de um carro, atrás de uma moita sempre serão lugares encantadores, apaixonantes para espumar a urina no chão. Vou contar o pecado, mas preservando a figura do pecador. Eram dois amigos inseparáveis. Quase irmãos. Um deles gostava de usufruir em demasia do líquido que os passarinhos se recusam a tomar. Um dia, para o casamento da filha do que sempre se mostrava sóbrio, o amigo bebum foi convidado, como não poderia ser de outra maneira. Ele foi e bebeu pra cacete. A festa se desenrolava solta e alegre na casa da noiva. Muitos convidados se cotovelavam pela sala, pelos quartos, cozinha e quintal. A noite já pintava tudo de negro. A lua cheia, lá no alto, permitia com seu brilhar que as pessoas não se trombassem no quintal. A casa era simples e de madeira. No quarto, na cama de casal, se amontoavam dezenas de presentes. O líquido estonteante, espumando nos copos, rolava solto. As mulheres faziam fila na única privada que existia na residência – era uma casinha em madeira lá no fundo do quintal. Os homens aliviavam-se por de trás da casa. O amigo do pai da noiva sentiu-se na obrigação, no elevado dever de dar conforto a seu esqueleto, e para aliviar sua bexiga começou a dura procura pelo lugar adequado. A mangueira que ele tem no meio das pernas, usada para esvaziar a urina, estava exageradamente endurecida causando certo constrangimento no mulherio presente, que fugiam em gritinhos de temor ou de saudade. Cambaleando, sem se preocupar com o vexame, procura o bêbado incessantemente um lugar adequado para se aliviar. Por fim ele abre uma porta. O lusco fusco do ambiente que se descortinou, misturado com o álcool que ele ingeriu, deu uma visão de uma linda e convidativa privada para o quarto repleto de presentes. Não teve dúvidas e começou com dificuldade abrir a braguilha. A noiva se retocava a um canto na penumbra, e quando viu aquele jumento acomodando, para o lado de fora da braguilha, seu instrumento urinário, pensou que seria estuprada antes do noivo. Quando ela percebeu que não era ela o objeto do desejo do bêbado, e sim o conforto que o atrás da porta trazia para ele, começou a gritar. O bêbado ouvindo os gritos pensou que fosse seu cacete dando à bronca, e com voz entrecortada diz: - Calma meu companheiro, já estou te aliviando! A urina corria, caudaloso rio, por debaixo da porta invadindo o corredor e tomando conta dos aposentos. A noiva aos gritos, fugindo do quarto escorrega naquela imundície e cai de prancha. O pai dela vem em seu socorro enquanto o povo pisando nas pontas dos pés tapava as narinas para evitar o forte cheiro de ureia. Quando o pai da noiva vê o bêbado saindo de trás da porta, pega-o pelo colarinho e espumando de raiva grita. - Seu porco imundo, veja o que você fez! O bêbado, quase caindo, babando, coloca a mão no ombro do amigo para não cair, e com voz conturbada diz: - Bonita festa meu amigo, quero beber para comemorar! POR: MARIO DOS SANTOS LIMA

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A FÉ AS VEZES MATA

Eu sempre fui de uma religiosidade fiel e a toda prova. Quase fui padre, mas acharam que eu seria mais útil a Deus fora da batina preta e me botaram para correr do seminário, mas mesmo depois servindo nas tropas do glorioso exército, vestindo a farda verde oliva levava a palavra de Deus aqueles infiéis e quase pagãos enfileirados comigo. Depois da caserna me achava em São Mateus, por alguns meses, e já sem trabalho, roupa e comida roguei desesperado a mãe maior, à sempre pronta e protetora Aparecida que me ajudasse no concurso para ingresso como trabalhador na Petrobrás. Prometi que quando pudesse iria fazer uma visita até Aparecida do Norte e pagaria a promessa. Fui atendido e fiquei na dívida com a santa. Alguns meses depois fui encaminhado pela Petrobrás à cidade de Tremembé para estágio de aperfeiçoamento e nivelamento. Fiquei feliz, pois lá fica bem próximo da cidade de Aparecida. Vou poder então pagar a minha dívida com a santa sem muito custo. A cidade de Tremembé linda e pequena quase engolida pela serra da Mantiqueira é banhada pelo Rio Paraíba. Cidade de Monteiro Lobato. Fiquei contente, quase desmaiei de alegria em saber que foram destas águas, lá em Aparecida que alguns pescadores retiraram a santa que quase morria afogada. Como um bandeirante comecei então a fazer sondagens e explorar a região, principalmente em Taubaté. Um dia, perambulando de um canto ao outro, descobri por acaso um ônibus estacionado e algumas pessoas adentrando-o. O que mais me chamou a atenção foi na testada do ônibus estar a placa indicativa com o nome Aparecida. Cheguei perto e de imediato perguntei ao motorista: - Este ônibus vai a Aparecida? - Vai sim, respondeu-me ele gentilmente. - E qual o preço da passagem? Indaguei curioso. O valor que ele me informou era algo irrisório, e desta forma pedi que confirmasse e ele garantiu que era aquele mesmo. Perguntei do horário e ele respondeu que era de hora em hora. Desta maneira, com este preço e estes horários vou todos os finais de semana para agradecer a santa e pedir mais alguma coisa para mim, pensei já determinado e pronto para a ação. Voltei todo contente para casa e já fazendo os planos de no próximo final de semana estar em Aparecida. Junto comigo, de São Mateus também vieram mais dez estagiários para a operação de treinamento e nivelamento na Petrobrás. A maioria deles ateus confessos, mas alguns com o ranço religioso herdado de seus pais. Comentei com os mais piedosos a grande descoberta e formulei o convite de viagem. A grande maioria, no entanto queria explorar a vida feminina, um tanto pacata de Tremembé. Eles estavam em outra sintonia, não tinham que agradecer a ninguém e nem pagar promessas alguma. De todos, apenas dois se entusiasmaram com a idéia e principalmente com o preço da passagem. Queriam mesmo é fazer turismo, mas ficou tudo combinado de na próxima semana estarmos em Aparecida do Norte. Sábado amanheceu maravilhoso com os pássaros entoando hinos celestiais. Tudo contribuía para a nossa felicidade – Conhecer Aparecida, e particularmente estar bem perto da santa e dizer de quanto eu sou grato a ela pela ajuda, e depois, junto com os outros ,, semi ateus dar umas voltas e tirar algumas fotos com minha kodak pinta vermelha. O ônibus que nos levou de Tremembé a Taubaté gastou mais ou menos trinta minutos entre pegar passageiros e deixa-los ao longo dos oito quilômetros de estrada. Chegamos finalmente e fomos ao ponto do ônibus rapidamente, pois faltavam apenas 10 minutos para ele sair. Caminhamos os três a passos rápidos e finalmente avistamos ao longe o danado que nos esperava. Olhei e fiquei admirado com a multidão de fieis que embarcavam. Embarcamos e como sardinhas em lata ficamos em pé, pois os assentos já estavam ocupados pelos fieis que madrugaram antes. - Tudo pelo santo sacrifício, pensei eu. Eu calculei umas duas horas de viagem e perguntei preocupado para meus amigos que de pé também estavam sendo espremidos: - Tudo bem com vocês? Vão resistir à viagem? Responderam laconicamente que sim. O motorista ligou o motor e o ônibus começou o que seria uma grande viagem. Peguei um terço e comecei a rezar umas ave-marias e uns pais-nosso. Quis pedir para o povo que me acompanhasse na reza e até quis entoar alguns hinos religiosos, mas me contive pensando que talvez a grande maioria daqueles fieis fossem tão pagãos quanto meus dois amigos e estavam ali apenas para ir conhecer a cidade de Aparecida. Fui rezando baixinho mil orações. Nem me dei conta de que o ônibus parava em todos os cantos, mas uma coisa me estranhou, foi o fato de que muita gente pedia para descer. - Será que é por causa da grande lotação? Pensei eu entre uma ave Maria e outra. Depois de mais de uma hora de viagem o ônibus parou e começou a descer todo mundo. Pensei eu que seria uma parada para comer e tirar a água depositada na bexiga. - Eu não vou comer e nem preciso urinar, por isto vou ficar aqui dentro, pensei comigo. Perguntei aos meus sofridos amigos - Se quiserem descer, fiquem a vontade. - Não, estamos bem, responderam de imediato. Desce um, desce outro e finalmente ficamos eu e meus dois amigos, ainda de pé no corredor do ônibus. - Vocês não vão descer? Perguntou o motorista saindo de seu assento. - Não, nós vamos ficar, obrigado, respondemos os três em uníssono como se tivéssemos combinado e ensaiado esta resposta. - Vocês tem que descer, pois aqui é o ponto final Quando o motorista disse isto, procurei pela janela do ônibus a Igreja de Nossa Senhora ou a rodoviária e só vi casas e o inicio de uma favela. - Meu Deus, será que teremos que andar muito até a cidade? Preocupadamente pensei. Calmamente, deixando meus amigos para trás no corredor fui até o motorista e perguntei. - Aqui é Aparecida? - Sim, aqui é a vila Aparecida. - Mas, e a cidade de Aparecida? - Vocês vão ter que voltar até a cidade e na rodoviária pegar o Pássaro Marron para Aparecida. Quando meus amigos ouviram isto, para não me matar, despojaram-me de todos os meus pertences e dinheiro inclusive o terço. Voltei a pé para Tremembé. POR; MARIO DOS SANTOS LIMMA