sábado, 22 de junho de 2013

UM PAÍS DE MULAS

Conta a lenda que em um certo lugar, prá lá de distante, e desconhecido, viviam as mulas, numa situação cômoda, relinchando feliz. Muita pastagem e água limpa à vontade. Esta terra era coberta por um verdejante e viçoso capim, cercada de rios e lagos que da cor deles se confundia com a do céu. Estas mulas não se incomodavam com nada pois tinham nas verdes pastagens a alimentação, e bem alimentadas, é claro, tinham saúde. Estas mulas tinham muito espaço disponível. Dormiam juntas ao relento, porque não tinham teto, no entanto, na santa ignorância delas, eram felizes. Eram analfabetas e só sabiam relinchar. A educação básica e profissionalizante era proibida pelos deuses. Não precisavam se alfabetizar e nem se incomodar com coisa alguma, visto que seus deuses proviam tudo, com uma tal bolsa grama. Os deuses eram mulas aceitos e eleitos pelo povo mula. Eram mais sabidas, tinham foro privilegiado e queriam o poder pelo poder. Os deuses viviam em campos muito mais verdejantes e saudáveis e comiam manas especiais produzidas pela grama com imposto pago pelas mulas, e dormiam em cocheiras foliadas em ouro. Tudo ia indo muito bem, até que um dia o monstro chamado maldição desceu sobre este longínquo lugar. A maldição veio transvestida de uma mula enorme, de tamanho descomunal que ressurgiu, com certeza, dentre os mortos. Trazia, como arma, uma inveja e ganância do tamanho de seu tamanho. O congresso dos deuses mulas legislava sempre em favor próprio. Como não poderia deixar de ser, em primeiro lugar, para melhorar a vida deles, e depois, as migalhas do que sobrava, era destinada então para o povo mula, em forma de bolsa grama, bolsa ignorância, e outras bolsas tantas. A maldição mula, para criar confusão, assoprou na orelha grande de cada deus, sugerindo a construção de um enorme circo nas verdes planícies do povo mula. E os deuses mula viram nessa sugestão uma grande oportunidade para desviar mais e mais grama para o bucho deles, e para as cocheiras fiscais. Concordaram, e anunciaram em rede relincho, ao povo mula a grandiosa obra, mas sem justificar e informar para que serviria esta maldita construção. O circo começou a ser erigido. As mulas analfabetas pastavam despreocupadas. Nos verdes prados nada a elas faltava. Bem alimentadas, com a imensidão de pasto, a saúde vicejava. O sistema de comunicação era de relincho em relincho de uma para outra. No vale verdejante reinava a paz; pertencia ao povo mula sem qualquer depredador mula presente. Mas a extravagante obra tomava forma e invadia espaço.. Os deuses estavam felizes com a construção superfaturada que trazia a eles muita grama para seus celeiros. O circo estava ocupando o pasto, e o canteiro de obras estava depredando a grama existente. A construção atraiu terríveis animais de fora e com isso apareceram os tigres, leões e hienas. As mulas começaram a sofrer agressões, estupros, e mortes. A situação começou a ficar insuportável. A água dos rios e lagos antes limpos agora recebiam detritos fecais, e a grama arrancada aos montões diminuía a olhos vistos. Foi proibido, por decreto, o relinchar para não atrapalhar a concentração dos operários. Sem relincho as mulas não se comunicavam. Enquanto os deuses se refestelavam em doçuras em suas lindas cocheiras, as mulas amargavam um pasto cada vez menor e de grama cada vez mais rala. O povo mula era mutilado, comido pelos terríveis carnívoros que não gostavam de grama. Já magras as mulas começaram a ficar doentes. A estratégia da maldição estava dando resultados. A maldição queria ver o circo pegar fogo, e então começou a futricar nas orelhas do povo mula: - Vocês são bestas filhas de uma égua rampeira! Não devem aceitar esta situação! Devem se reunir em bando patear expulsando os intrusos, e dar um coice no traseiros destes deuses imbecis e aproveitadores. Devem parar a construção deste circo que só está consumindo a grama e não vai trazer qualquer benefícios para vocês. Esta obra não vai servir nem para cocheira. Vocês devem votar contra a PEC ignorância. Pronto! a mulada estava alvoroçada e puta da vida com a situação. A mulada finalmente acordou. As mulas saíram para o pasto relinchando a ordem do dia. - Mulas unidas jamais serão vencidas! Abaixo o circo! Abaixo os deuses! abaixo os miseráveis animais predadores! Queremos o nosso verdejante pasto de volta e nossos rios e lagos despoluídos! Queremos relinchar livremente! Pateando a tropa de mulas cercou o circo, e fez com que os leões, tigres e hienas batessem em retirada. Os deuses apavorados se reuniram, e prometeram em rede nacional desmanchar o circo, e voltar a planície como antes era. A mulada aproveitou e pediu que os deuses mulas fossem fazer festa em outro lugar. Fossem para a rampeira que os pariu. Os deuses em prantos, por ter perdido a teta, se foram. Por unanimidade as mulas concordaram que o melhor também seria mandar junto aos deuses a mula maldição. E assim se cumpriu. A mulada hoje vive sem o desmando dos déspotas mulas deuses, se preparando para votar em outros deuses que tragam a elas paz, prosperidade, saúde, segurança e educação. POR: MARIO DOS SANTOS LIMA