sábado, 3 de setembro de 2011

O BIDÊ AO LADO DA CAMA


Eu nunca me dei conta das diferenças regionais que reinam por aí. Ouvia alguém falando alguma coisa diferente, simplesmente achava engraçado, mas não me perdia em tempo em me aprofundar na questão dialética. Era quando muito hilário, e pronto.
Aqui na região de Curitiba é comum quando queima o foco que iluminava o ambiente pedir outro foco para substituir o queimado. O foco pode ser de 110 volts ou então para economizar energia um de 220 volts.
Para aqueles que não entendem o regionalismo metropolitano de Curitiba, foco é a lâmpada, pura e virgem, que se sustenta pendurada iluminando ou espantando a escuridão de um ambiente.
Aprendi que regionalismo é o conjunto das particularidades lingüísticas de uma determinada região geográfica, decorrentes da cultura lá existente. Em algumas situações é quase que um dialeto. Se alguém pede um caixote seco deverá entender que ele está necessitando de um caixote livre e desimpedido
E foi morando em São Mateus que, convivendo e estudando, aprendi muita coisa e particularidades lingüísticas. Aprendi a fazer e a empinar pipa e bidê. O bidê era mais produzido, mais complexo. Era feito em varetas de painas que a gente buscava nos campos.
Durante o dia empinava o bidê e a noite usava o meu bidê como base para o castiçal com a vela.
Achava superinteressante, mas usava um bidê do lado da cama. E não era a pipa ou papagaio. O bidê do lado da cama sempre foi bem mais confortável, mais prático para se colocar as chinelas na parte de baixo e na gaveta guardar alguns papéis e documentos e na parte de cima para deixar, o despertador, o livro e o castiçal antes de dormir.
Meu bidê era fabricado em imbuia e graciosamente envernizado. Era uma peça trabalhada, linda e muito útil.
Fomos eu e mais dez de São Mateus para a pequena cidade de Tremembé. Outras paisagens, outras culturas e outros dialetos tivemos que enfrentar.
A dona da hospedaria que ficamos nos deixou bem à vontade e com o máximo conforto pondo-nos livres para solicitar qualquer eventual necessidade.
Um dia cheguei à hospedaria e lá estava a maior confusão. A polícia se achava presente para acalmar os ânimos e prender o transgressor. Todos gritavam, se acotovelavam e xingavam ao mesmo tempo.
Vi meu amigo em camisa de força
Cheguei com cuidado.
- O que aconteceu, perguntei aflito a dona da hospedagem.
- Imagine só, começou a falar bastante agitada a proprietária. Ele, e apontou para o meu amigo imobilizado e amordaçado, pediu para mim um bidê do lado da cama dele.
- Mas, minha senhora, tentei contornar a coisa, mas ela continuou enlouquecida.
- Eu disse que não iria instalar isto lá e então ele começou a gritar comigo dizendo que compraria um e colocaria do lado da cama dele e cobraria o preço da compra.
Mas,... tentei novamente falar, mas em vão
- Teu amigo é um perigoso e tarado animal.
- Mas por que chamou a polícia? Perguntei então.
- Ele estava por demais alterado, dizendo que eu era uma louca e incompetente proprietária de um bordel. Este filho de uma puta me ofendeu.
- Mas, minha senhora, por qual razão você não quer colocar o bidê do lado da cama dele? Evitaria todo este transtorno.
- Primeiro porque acho uma indecência e em segundo lugar não existe instalação hidráulica e nem sanitária no quarto.
Aí então entendi o engodo. No estado de São Paulo bidê é aquela peça sanitária, com o formato de uma bacia oblonga para lavagem das partes inferiores do tronco, as partes íntimas, e é claro, necessita de água para a ducha.
Coloquei a mão no ombro dela e expliquei.
- No Paraná nós colocamos o bidê do lado da cama e por isto ele pediu. O bidê lá é o mesmo criado mudo aqui.
A multidão se dispersou e a polícia desafogou o meu amigo e se recolheu.
A proprietária resfolegou iracunda e reclamando foi buscar o bidê para a cama do meu amigo dizendo:
- Nunca mais vou hospedar aqui caras com este linguajar estranho.

Por:Mario dos Santos LIma

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